Perfil Ivan Monteiro
O pior emprego do país
Conhecido pela intolerância a erros e pela experiência em captar dinheiro, novo diretor financeiro da Petrobras diz aceitar missão espinhosa por lealdade ao chefe
A noite caía em 6 de fevereiro, uma quarta-feira, quando Ivan Monteiro, vice-presidente de gestão financeira do Banco do Brasil, foi chamado à sala do chefe. No caso, a presidência, no 18º andar da sede do banco em São Paulo.
Lá, Aldemir Bendine, presidente do BB, foi direto:
"Estou indo para o Rio e você vai comigo".
Monteiro, que havia sido levado à vice-presidência seis anos antes a convite de Bendine, riu, mas não titubeou: "Legal, vamos. Mas o que é?".
Foi assim que Monteiro recebeu a notícia de que seria o novo diretor financeiro da Petrobras, um gigante desgovernado diante das denúncias de corrupção da Lava Jato. O tamanho do buraco provocado pelo esquema virou um mistério, o balanço passou a não ter data para sair e o preço das ações só fazia cair.
De temperamento fechado e considerado cri-cri, especialmente com regras de transparência e de boa governança (ponto fraco da estatal), Monteiro decidiu ir para a Petrobras com o chefe.
Seu nome era cogitado para a presidência da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do banco.
"Lealdade. Não poderia dizer 'não' ao cara que apostou em mim", disse a interlocutores, justificando a decisão.
Se o nome de Bendine desagradou aos investidores (as ações desabaram mais de 7% no dia), o de Monteiro foi recebido como um alento.
"O Ivan é um craque", disse Paulo Leme, presidente do Goldman Sachs no Brasil, que teria sido sondado para comandar a empresa.
SEM RODEIOS
Classificado como um negociador habilidoso por banqueiros, é visto também como um chefe exigente e "com pouquíssima tolerância a erros". Pouco afeito a salamaleques, é objetivo e por vezes ranzinza, dizem colegas.
Diante de deslizes, seus subordinados acostumaram-se a ouvi-lo reagir de forma enérgica: "Se continuar fazendo besteira, a ação vai virar pó!", recorda um ex-funcionário.
No BB, enquadrou a turma do Votorantim, banco comprado na crise de 2009 e que tinha controles de risco fracos e inadimplência alta. O Votorantim só deu lucro a partir de 2014.
Pouco afeito aos holofotes, Monteiro transita bem pelo governo, mas conseguiu fugir da pecha de homem do PT.
Filho de um ex-funcionário do BB, nasceu em Manaus, mas se mudou ainda na infância para o Rio. Foi lá que se apaixonou pelo Flamengo e pelo vôlei de praia.
A amigos gosta de dizer que só precisa de R$ 20 para viver, o suficiente para comprar biscoito Globo (o biscoito de polvilho mais famoso da cidade) e Mate Leão.
Na faculdade, trocou a praia por Santa Rita do Sapucaí (MG). Cursou engenharia e, antes de se formar, fez concurso para o BB. Precisava do dinheiro.
Iniciou como escriturário. Foi na volta ao Rio que começou a construir a boa relação com o mercado financeiro. Na década de 1990, Monteiro montou a área de atendimento corporativo do BB.
A nova unidade seria encarregada do atendimento às maiores empresas locais (Vale, Ipiranga, Shell e posteriormente a própria Petrobras).
A carreira deslanchou em 2008, quando, poucos meses antes do estouro da crise, assumiu a gerência-geral do banco em Nova York.
Aproveitando a incerteza em relação aos bancos estrangeiros, montou uma estratégia para conquistar as empresas brasileiras com investimentos fora. Mesmo com a crise, o BB conseguiu aumentar a clientela nos EUA.
Deixou os EUA e, um mês depois, chegou à vice-presidência a convite de Bendine. Os dois nem se conheciam, mas Monteiro já era apontado como um dos talentos do banco e fora a ele indicado.
Casado e com três filhos, não gosta de beber. Arranca risos de amigos quando aponta um vinho de primeira linha e pergunta: "Esse é bom?".
O único vício conhecido é o vôlei, que pratica desde os 13 anos.