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Análise Medicina

Turismo médico também traz risco a paciente

Infecções hospitalares causadas por bactérias multirresistentes devem ser motivo de preocupação a quem viaja

JUVENCIO JOSÉ D. FURTADO
THAÍS GUIMARÃES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O termo turismo médico foi cunhado pelas agências de viagens e pelos meios de comunicação. Mais do que um jargão, tem sido usado para descrever uma nova oportunidade de negócio.

Habitualmente, esses tratamentos não são emergenciais. São cirurgias plásticas, ortopédicas, ortodônticas, gástricas (bariátricas), cardiológicas e ainda a fertilização assistida, que podem ser planejadas para as férias.

O que mais preocupa nesse tipo de turismo são os riscos relacionadas a infecções hospitalares causadas por bactérias multirresistentes.

Mesmo onipresentes, bactérias causadoras de infecções hospitalares como o Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae podem carrear padrões de resistência a diferentes antibióticos.

Em instituições de saúde, tais pacientes podem ser "caso índice" de surtos hospitalares de novos patógenos.

Não há estudos consistentes de infecções associadas ao turismo médico.

Os dados disponíveis vêm de séries retrospectivas de casos e de pesquisas de pacientes e de médicos.

Um dos exemplos foi o de um grande surto da bactéria Acinetobacter baumannii em um hospital belga, em que os dois "pacientes índices" foram transferidos de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) grega após um trauma.

EPISÓDIOS

Muitos outros países, incluindo o Reino Unido e a França, têm relatado episódios de colonização ou infecção em pacientes transferidos de países em que essas bactérias são endêmicas.

O gene NDM (Nova Deli metalobetalactamse), presente em algumas superbactérias, foi descrito pela primeira vez na Suécia e no Reino Unido e foi fortemente associado a infecções com cuidados de saúde recebidos no continente indiano.

No Reino Unido, 9 de 19 pacientes haviam sido recentemente hospitalizados na Índia ou no Paquistão para tratamentos que variavam desde o transplante de órgãos sólidos até cirurgias estéticas.

Para o viajante, a importância de uma infecção por micro-organismo resistente dependerá em grande parte de sua condição de saúde e pode variar de um achado incidental até uma infecção ameaçadora à vida.

Para as instituições de saúde, o significado da importação de micro-organismos resistentes dependerá do ambiente preexistente e da probabilidade de propagação, determinada pela infecção e pelas práticas de prevenção, mas certamente terá um impacto negativo no controle das infecções hospitalares.

JUVENCIO JOSÉ DUAILIBE FURTADO é professor de infectologia da Faculdade de Medicina do ABC e chefe do Departamento de Infectologia do Hospital Heliópolis-SP.

THAÍS GUIMARÃES é médica infectologista, presidente da Subcomissão de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital do Servidor Público Estadual-SP.

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