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Cifras & Letras CRÍTICA / RENDA Livro analisa crescimento da nova classe média no Brasil Autor mostra as mudanças na pirâmide social e no mercado consumidor O BRASILEIRO PASSA POR UMA "METAMORFOSE GRADUAL", DEIXANDO DE SER CIGARRA E INDO EM DIREÇÃO À ÉTICA DAS FORMIGAS
DE SÃO PAULO O crescimento da classe média brasileira nos últimos anos é um dos assuntos que mais interessam a vários setores da sociedade do país. De políticos a empresários, todos querem entender esse segmento que pode determinar o sucesso ou fracasso de uma empreitada. Não é para menos, os 105 milhões que compõem a chamada classe C (55% da população) podem sozinhos definir o resultado de uma eleição presidencial e já concentram 46,6% do poder de compra do país -mais que as classes A e B, que, juntas, ficam com 45,6%. É um grupo muito heterogêneo e toda informação sobre ele é bem-vinda. Foi com essa ideia em mente que Marcelo Neri, doutor em economia e chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, decidiu publicar "A Nova Classe Média" (Saraiva), lançado recentemente. São 312 páginas de gráficos, tabelas e interpretações para deleite daqueles que gostam de números. Neri adota o conceito de renda para dividir a população em classes. Na E, estão famílias com renda mensal até R$ 751; na D, entre R$ 751 e R$ 1.200; na C, de R$ 1.200 a R$ 5.174. Quem está numa família que ganha mais que esse valor pertence às classes A ou B. O economista, na verdade, prefere o termo "nova classe média" e se explica. "Chamar a pessoa de classe C soava depreciativo, pior do que classe A ou B, por exemplo. Nova classe média difere em espírito da expressão 'nouveau riche', que acima de tudo discrimina a origem das pessoas", escreve. Essa "nova classe média" teve o ingresso de 39,6 milhões de pessoas entre 2003 e 2011. Já nas classes A e B o alta foi de 9,2 milhões -ou seja, em menos de uma década, mais que a população da Espanha foi incorporada às classes A, B ou C no Brasil. O pesquisador, que é colunista da Folha, faz uso de uma miríade de fontes, principalmente o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), para mostrar como aconteceu essa ascensão social e quem são esses novos componentes do mercado consumidor. São pessoas que passaram a comprar mais itens básicos, como alimentação, têxteis e móveis, mas que também gastam dinheiro com turismo, por exemplo. Neri, no entanto, diz que não se trata só de consumo. Segundo ele, o brasileiro passa por uma "metamorfose gradual", deixando de ser cigarra e indo em direção à ética das formigas, numa referência à fábula que vê as primeiras como gastadoras irresponsáveis e as segundas como aquelas que se preparam para o futuro. Um exemplo é a busca por mais escolaridade, com o objetivo de obter uma nova melhora na renda. REPETIÇÕES Apesar das qualidades, o livro tem alguns problemas que tendem a irritar o leitor. Um deles é o excesso na repetição dos mesmos dados (índices de desigualdade, de renda per capita etc.), que entram em capítulos diferentes para reafirmar as teses. Além disso, a maior parte dos gráficos é pequena e em preto e branco, o que dificulta a leitura e a comparação entre índices. Um anexo colorido no final do livro, "Atlas da Nova Classe Média", ajuda um pouco, mas não soluciona de vez o problema. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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