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'Repasse total do petróleo frearia consumo'

Presidente da Petrobras diz que barril a US$ 120 preocupa e pode afetar economia global, mas não acredita em choque

Graça Foster afirma que, a partir do fim de 2013, empresa trará ganhos de curtíssimo prazo aos acionistas

DOS ENVIADOS AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO

A nova presidente da Petrobras, Graça Foster, diz que não adianta repassar automaticamente as oscilações do preço internacional do petróleo aos preços dos combustíveis vendidos no mercado interno porque isso afetaria o consumo no país.

"O que adianta eu passar 40% de paridade [de preço] on-line e voltar à condição de quando, para trabalhar, saíamos cinco num Fusquinha para não gastar gasolina?", questiona ela, para quem o barril a US$ 120 preocupa muito.

(MARIA CRISTINA FRIAS, VALDO CRUZ E DENISE LUNA)

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Folha - Com o petróleo a US$ 120 o barril, como fica o cenário para a Petrobras, que trabalha com projeção de preço entre US$ 80 e US$ 90?

Graça Foster - Trabalhamos neste primeiro trimestre do ano com US$ 102 o barril nos testes de robustez dos nossos projetos, então temos uma margem muito positiva, consequência dessa infraestrutura que temos.

Agora, quando digo que o petróleo a preço mais alto se traduz em coisa positiva para nós, tudo tem um limite, gera um custo. Você não pode considerar que o petróleo sai de US$ 80 para US$ 120 e que os custos da indústria de bens e serviços não acompanhem esse petróleo.

Não é hora de aumentar, então, os combustíveis?

Tivemos na última reunião do Conselho [de Administração] uma apresentação cheia de dados, e os nossos indicadores ainda mostram que a gente tem uma certa folga nos nossos previsores para este ano. Mas entendo que é inexorável que tenhamos de fazer ajustes de combustível.

Até quando vai essa folga?

Depende de como se comportar o [petróleo] Brent, se se ele vai ficar nesse patamar ou se vai ficar escalonando.

Quando a sra. diz que tem uma certa folga, dá a entender que ela não é muito elástica.

Não é elástica, não é elástica.

Se continuar esse preço, US$ 120, US$ 124, por mais alguns meses...

A capacidade de financiamento da Petrobras é bastante grande. Eu não quero antecipar prazo, se é daqui a três, daqui um mês.

Há até pouco tempo a grande ameaça mundial era uma recessão global. Agora é a possibilidade de um novo choque de petróleo, como já dizem alertas do FMI. Corremos esse risco?

O petróleo a US$ 120 preocupa, em especial para os países que têm sua economia fundamentada em importação de todos os hidrocarbonetos. O preço do petróleo crescente é bastante ruim para a economia mundial. Mas não acredito, com os indicadores de hoje, em choque.

A sra. acha que pode chegar a US$ 130?

Pode.

A questão dos preços dos combustíveis afeta os acionistas minoritários, já que o valor das ações está caindo.

Eu faço uma ressalva de que, dentro dos minoritários, temos um grupo que também investe para o longo prazo.

Os grandes resultados da Petrobras virão no médio e no longo prazo. No curto prazo, são ações extremamente líquidas, esse é o portfólio de uma empresa que vem investindo tanto para alcançar 6 milhões de barris/dia num plano para 2020. Esse é um sinal claro e inequívoco de que será uma empresa de curtíssimo prazo a partir do alcance da sua rampa de produção.

Só em 2020?

Não sei se em 2020. Mais cedo. No fim de 2013, no início de 2014, a empresa começa a ficar uma empresa cujo resultado, para muitos, vai traduzir ganhos de curtíssimo prazo.

Os analistas, tanto daqui como do exterior, criticam a intervenção do controlador na Petrobras. Está sendo maior ou menor na sua gestão?

Olha, o controlador interfere nas suas empresas sempre. Aquele que tem maior número de ações tem maior poder sobre a empresa.

As grandes questões dessa companhia são discutidas no Conselho de Administração, onde há uma ponderação entre as proposições feitas pela empresa e pelos demais acionistas que ali estão.

Como presidente da empresa, como é conviver com um acionista majoritário que sempre leva em conta a questão macro, como o impacto de reajustes de combustíveis na inflação? O ideal seria não ter essa preocupação, certo?

Minha preocupação é com meu consumidor, com sua capacidade de consumir tudo o que produzo. Eu aprendi isso na BR [Distribuidora], quando fui presidente lá, porque você vê o consumo encolher e crescer numa relação direta com preço.

Então, se você tem um aumento maior, num momento da economia que possa traduzir alguma preocupação, o consumidor viaja menos.

Como eu disse, a saúde financeira da companhia é discutida o tempo inteiro junto com o controlador. O tempo todo.

O que adianta eu passar 40% de paridade [de preço] on-line e voltar à condição de quando, para trabalhar, saíamos cinco num Fusquinha para não gastar gasolina?

E o título de Dilma da Dilma? A sra. tem muito afinidade com a presidente, que semelhança a sra. vê?

Eu acho que, talvez, [somos] muito objetivas, determinadas, para mudar nosso rumo é difícil. Às vezes, a gente pode até perder um bom aconselhamento porque somos muito determinadas em perseguir um alvo.

Mas fico muito orgulhosa. Às vezes acho engraçado, fico rindo, não é tanto assim, mas acho interessante e fico orgulhosa da comparação.

Sua chefe está enfrentando um momento de turbulência política?

Não entendo dessa parte.

Ela está aprendendo a lidar com política? Diziam que ela era mais gestora?

Acho ela bastante habilidosa, muito habilidosa, mas eu não entendo, essa parte...Eu seria, assim, completamente inconsequente de dar uma posição.

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