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Vinicius Torres Freire

Um mundo de mais ou menos

Finança faz festa nas Bolsas de um mundo letárgico; contas públicas no Brasil melhoram, apesar do gasto

AS BOLSAS AMERICANAS tiveram neste início de ano o melhor trimestre desde 1998. Decerto o preço das ações se recupera a partir de uma "base baixa", como diz o jargão, de tombos horríveis e recorrentes desde o colapso de 2008. Mais precisamente, recupera-se do grande medo que durou de meados até dezembro do ano passado.

Então ainda se temia a volta da recessão nos EUA; uma grande quebra de bancos na Europa; os preços das commodities, lá pelo fim do ano, murcharam tanto que os rapazes do mercado pareciam acreditar numa recessão no mundo inteiro.

O mesmo ano de 2011, porém, parecia a princípio fagueiro, nas previsões de início do ano de economistas e "mercado" (donos do dinheiro grosso do mundo).

Está todo mundo assim tão feliz?

Não. O presidente do banco central americano, o Fed, Ben Bernanke, disse na semana passada que a recuperação do emprego ainda é frágil. Sem mais crescimento, para por aí. No mais, metade da queda do desemprego nos EUA se deveu ao fato de que levas de americanos desistiram de procurar trabalho -muitos se aposentaram.

Há pessimistas no mercado financeiro dos EUA. O meio do ano não seria tão bom: os salários médios ainda caem, os lucros fraquejam, opções de bom investimento produtivo são poucas, a eurolândia terá sua recessãozinha etc.

Sim, a situação está bem melhor que a de meados de 2011.

Mas o leitor, que é perspicaz, deve ter notado como flutuam os humores de mercado e economistas, em meses, de modo radical. Durma-se com um sacolejo desses.

DEFICIT ZERO?

O deficit público no Brasil deve ser de 1,2% do PIB ao final deste 2012, estima o governo. Isto é, a diferença entre o que todos os governos arrecadam e gastam, incluídas as despesas com juros, será equivalente a 1,2% do PIB.

Trata-se aqui do deficit nominal do setor público (União, Estados, municípios), no termo mais preciso.

Se for verdade, será um recorde. Pelo menos, um recorde até onde se sabe, um resultado inédito em pelo menos uma década. As estatísticas organizadas, uniformizadas e publicadas pelo Banco Central vão até 2001, 2002. Mas é quase certo que, a ser verdade, tenhamos fé, seria o melhor resultado desde o Plano Real, desde 1994. Antes disso, entre outras barafundas, a inflação exorbitante distorcia as contas.

Alguém pode dizer que é uma vergonha o governo não ter chegado ao deficit zero, ao equilíbrio das contas, tendo em vista os anos de bom crescimento da economia e o excepcional aumento da arrecadação (mais rápido que o do PIB). É. Pode. O que será do deficit se a economia passar por uma recessão e/ou a receita parar de crescer tão rápido (o que já começa a acontecer)?

Ainda assim, olhemos ao redor. Sim, estamos no Brasil, do devagar e sempre, das corporações que tiram renda do Estado, do Estado que gasta muito também porque somos um país ainda pobrezinho e de histórica, imensa, desigualdade para remediar, o que custa caro.

Isto posto, o resultado não é tão mau. Com um pouquinho mais de esforço e racionalidade, seria possível chegar ao "deficit nominal zero", uma hipótese de campanha da candidata Dilma Rousseff, em 2010.

vinit@uol.com.br

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