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Roberto Rodrigues

Presente e futuro

Precisamos e podemos crescer mais 100 milhões de toneladas nos próximos dez anos, e o mundo espera isso

NA Terça-feira passada, o reconhecido consultor André Pessoa apresentou, na Fiesp, os resultados da nona edição do Rally da Safra, principal expedição técnica de avaliação da safra brasileira de soja e de milho.

Organizado pela Agroconsult, o Rally deste ano teve sete equipes que, entre 16 de janeiro e 22 de março, percorreram cerca de 60 mil quilômetros em 13 Estados cujas regiões produtoras representam 99,4% da área cultivada com soja no país e 80% do milho.

Um dos pontos mais relevantes anotados foi a extrema variação de resultados em função das condições do clima: uma verdadeira safra de contrastes. Houve enorme diferença de produtividade entre regiões, com Centro-Oeste e Nordeste vencendo de longe o Sul e o Sudeste.

Mas, mesmo dentro de cada uma dessas regiões, houve variações grandes: uma chuva a mais pode ter feito enorme diferença, alterando resultados.

O Rio Grande do Sul foi o mais afetado pela seca -não é a primeira vez- e a produtividade média de soja no Estado foi de apenas 20 sacas por hectare, contra 47 do ano passado. Também o Paraná teve quebra, produzindo 39 sacas por hectare neste ano, enquanto no ano passado chegou a 56 sacas.

Em compensação, Goiás teve a maior produtividade média do país, com 54 sacas por hectare, duas a mais que no ano passado.

A média geral do Brasil foi de 43,3 sacas por hectare, e no ano passado bateu 51,9. Com isso, a safra nacional deste ano deverá alcançar 65,2 milhões de toneladas, 10 milhões a menos que em 2011.

Uma quebra e tanto, a mesma da safra Argentina, também de 10 milhões de toneladas, e outros 5 milhões a menos no Paraguai. Isso explica, em parte, os atuais elevados preços da soja.

Quanto ao milho, houve uma grande novidade: mesmo com quebra de produtividade por causa da seca, a safra de verão deverá chegar a 36,5 milhões de toneladas.

Se a safrinha confirmar a previsão de produção de 28,1 milhões de toneladas, podemos ter uma safra total de milho de 65 milhões de toneladas, do mesmo tamanho que a produção total de soja.

Isso não acontecia havia 12 anos, e se deve à vigorosa introdução de tecnologias modernas na produção desse grão fundamental para o sucesso das proteínas animais, leite e carnes.

Nossa produtividade média de milho estava bem abaixo da média mundial e não chegava à metade da média norte-americana. Houve um grande avanço.

Outro tema destacado pelo Rally é que a soja transgênica já representa 87% da área cultivada, de modo que vai se caracterizando um nicho muito claro para a soja convencional: o mercado deve sinalizar quanto vai pagar a mais por ela, estabelecendo um paradigma esperado há algum tempo.

Uma questão forte é a das perdas na colheita. Ainda são muito altas e precisariam ser reduzidas, seja por melhor regulagem de colhedeiras, seja pela maior capacitação dos operadores. Não é possível ter perdas próximas a 3%, como estão ocorrendo. A meta é reduzir isso para no máximo 0,5%!

Mas há outros pontos muito interessantes: o Rally revelou espetacular melhoria de gestão e governança. O agro vai passando para o negócio, dentro do agronegócio.

Já existem grupos fazendo a gestão auditada por consultores especializados, fala-se em abertura de capital em muitas fazendas.

Fica uma preocupação com os médios produtores, uma vez que os pequenos estão sendo atendidos pelas cooperativas, cada dia mais eficientes e bem geridas. E os grandes estão bem. Mas os médios estão sem estratégia.

Ao final de sua exposição, André Pessoa ressaltou que precisamos e podemos crescer mais 100 milhões de toneladas nos próximos dez anos, e o mundo espera isso.

Mas, para tanto, é necessário um comprometimento muito mais vigoroso do que tem sido feito até agora, e não apenas por parte do governo. O setor privado tem que se organizar melhor e assumir seu papel no agronegócio, que pode vir a ser

-maior ainda do que já tem sido- o grande motor do desenvolvimento brasileiro.

ROBERTO RODRIGUES, 69, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 14 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Mohamed El-Erian

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