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Cifras & Letras CRÍTICA / iNDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA Relato passional disseca recall e refaz história de montadora Autor compensa falta de isenção com riqueza de detalhes sobre a Toyota
DE SÃO PAULO Imagine a cena: você come um alimento industrializado e passa mal em seguida. Um primeiro rumor sobre a qualidade do produto lhe servirá para culpar o fabricante. Mas o mesmo mal-estar após uma refeição de mãe, dificilmente, será capaz de lhe fazer aceitar acusações similares. "O sólido relacionamento e a confiança são imunes a praticamente qualquer ataque", sugere Jeffrey Liker, em "A Crise da Toyota". A analogia com o vínculo materno está na obra como forma de representar o nível de profundidade desejado pela montadora japonesa para o relacionamento com os clientes. Uma explicação clara, mas exagerada. A relação de confiança -ou a falta dela- é o que rege a narrativa nas mais de 200 páginas do livro que se propõe a analisar o impacto da crise detonada pelos recalls da Toyota, em 2009 e 2010. Após um contexto histórico sobre o avanço do modelo de produção da empresa, o livro detalha o cenário adverso da crise financeira e mergulha nas causas e nas consequências das convocações para reparo dos carros. Falta isenção ao relato de Liker, cuja proximidade com a montadora é grande. É de sua autoria o "Modelo Toyota", sobre a fórmula que fez a empresa ascender de uma fábrica de teares à liderança mundial no setor automobilístico. "Queria pular do ringue e brigar pela reputação da Toyota" diz já no prefácio. Ao analisar os recalls, escapam frases de admiração que tendem a atenuar a responsabilidade da montadora nos casos que geraram a desconfiança em relação à segurança dos veículos. A ironia é que o forte vínculo autor-empresa se transforma na maior qualidade do livro. Os olhos apaixonados de Liker refazem de forma esmiuçada a trajetória da companhia, numa rica combinação de relato histórico da organização com detalhes sobre o modelo de gestão. Há mérito também na parte técnica. As suspeitas de aceleração não intencional e os problemas no pedal de freio, duas das principais causas dos recalls de mais de 10 milhões de veículos em seis meses, são pormenorizados até que se cessem as dúvidas sobre a segurança. A bagagem do autor confere vantagem nesse ponto: Liker é professor de engenharia industrial e operacional. Um leitor mais crítico poderá dizer que o excesso de termos técnicos trunca a leitura e empobrece um texto com muitos erros de digitação. É verdade. Por outro lado, quando o assunto é segurança, o excesso de zelo e a busca pela precisão técnica do autor são bem-vindos. Ainda mais no caso da Toyota, no qual o principal desafio após os recalls foi reverter a sensação de insegurança. Segundo o livro, era mais uma questão de asseverar aos motoristas o "parecer seguro" do que apenas comprovar a falta de risco. No balanço final, o autor faz um contraponto importante. Ele relata a retomada das vendas, da lucratividade e da participação de mercado da montadora, mas reconhece os danos do episódio à reputação da companhia. Não endossa, portanto, a tese de uma recuperação completa. Deixa ao leitor a tarefa de fazer a interpretação. Um pouco relato passional, um pouco manual técnico e um pouco histórico organizacional, "A Crise da Toyota" não é uma comida de mãe, mas tem lá o seu sabor. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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