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Análise

Profissionalização da gestão na área de saúde tornou-se uma necessidade

ÁLVARO ESCRIVÃO JUNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

O aumento constante dos custos com o cuidado em saúde provocado pelo envelhecimento da população e pela crescente incorporação dos avanços tecnológicos na área de diagnóstico e tratamento dos doentes é um fenômeno muito conhecido e debatido.

Nesse ambiente complexo, onde a competitividade é crescente, as instituições de saúde assumem características empresariais, orientadas por princípios de lucratividade e competitividade, necessitando, por decorrência, de gestão profissional, tanto do ponto de vista da eficiência como da competitividade.

A diversidade de interesses, intuitos e objetivos presente nas organizações de saúde gera conflitos que fazem parte de um jogo de poder em que atuam os médicos e os outros profissionais responsáveis pela assistência, os quais tomam decisões que implicam em mobilização de vultosos recursos orientados pela lógica de sua formação profissional, ignorando, em geral, os aspectos administrativos e financeiros.

Esses profissionais, na maioria das vezes os médicos, são detentores de grande influência na estrutura de poder da organização tanto em função do conhecimento técnico e científico específico como pelo ambiente de urgência e risco em que atuam.

E, ainda, pela legitimidade que têm diante da equipe, construída pela convivência em situações-limite.

Nesse cenário, a discussão dos modelos de remuneração hospitalar é essencial. Pesquisa sobre o tema mostrou que o aumento de custos da assistência não reverte em benefício para o paciente.

Existe a predominância do modelo de pagamento "itemizado" ("fee-for-service") nos contratos entre planos de saúde e hospitais.

Esse método gera um estímulo ao uso desnecessário de serviços, particularmente dos procedimentos mais rentáveis, sem necessariamente favorecer a melhoria da qualidade da assistência ou da eficiência da empresa.

Existe, ainda, um custo alto no sistema destinado ao marketing dos materiais e medicamentos, sendo que parte desses gastos destina-se a práticas que tentam tirar a racionalidade científica da indicação do procedimento, ao fazer com que a escolha esteja atrelada aos benefícios oferecidos aos médicos, como pagamento de viagens, cursos, congressos e outros.

Sob esse regime, torna-se difícil garantir que os pacientes tenham acesso a todos os procedimentos que necessitam e, ao mesmo tempo, evitar o uso abusivo e mercantilista de serviços de diagnóstico e tratamento.

Nesse sentido, a comunicação e a negociação são instrumentos decisivos na gestão em saúde. A disponibilidade de sistemas adequados de informações epidemiológicas e administrativas é outro fator crítico para o gerenciamento ético em saúde. As informações devem permitir não só a avaliação econômica, como também da qualidade dos serviços prestados.

A profissionalização da gestão na área da saúde deixou de ser uma vantagem competitiva ou um diferencial da instituição, tornando-se um determinante básico, como na maioria dos outros setores da economia.

Ela exige do gestor uma sólida formação em administração, aliada a um profundo conhecimento das peculiaridades da área de saúde.

ÁLVARO ESCRIVÃO JUNIOR é coordenador-adjunto do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da Fundação Getulio Vargas (GVsaúde).

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