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Governo vai retomar trechos de ferrovias de concessionários

Acesso ao porto de Santos, que tem grande volume de transporte, está entre os segmentos que terão novo leilão

Ministro afirma que já houve discussões com atuais concessionários antes do pacote e que não haverá prejuízo

DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA

O governo retomará das atuais concessionárias de ferrovias trechos que, incluídos no pacote de concessões anunciado na semana passada, serão relicitados, disse à Folha o ministro dos Transportes, Paulo Passos.

No total, o governo vai conceder 10 mil quilômetros em 12 novas concessões de ferrovias. Metade dos trechos está concedida. Eles têm trilhos, a maior parte velha e sem uso, que terão de ser refeitos pelos vencedores dos leilões.

Em dois casos, os trechos que serão retomados têm um grande volume de transporte. É o caso do acesso ao porto de Santos, hoje explorado pela MRS Logística. Outro é o trecho entre SP-RS, explorado pela ALL.

As concessionárias assumiram em 1997 e têm contrato de 25 anos para exploração exclusiva nos trechos. Segundo Passos, a retomada ocorrerá "sem prejuízo" para os atuais concessionários.

O ministro -no cargo há pouco mais de um ano, mas que trabalha há 11 no ministério- disse que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deu respostas aos problemas do país. Mas que o atual plano é um avanço: "O governo pode fazer muita coisa. Mas não pode fazer tudo". Leia entrevista à Folha.

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Folha - O sr. ocupa cargos de direção na pasta dos Transportes desde 2001. O que impediu o anúncio de um pacote como esses mais cedo?
Paulo Passos - O país mudou. Em 20 anos, praticamente não se investiu em infraestrutura. Trabalhávamos na faixa de R$ 2 bilhões ao ano na década de 1990. Hoje, são R$ 16 bilhões. O salto é muito grande. Isso propiciou condições para retomar a capacidade de resposta às necessidades.
A primeira evidência disso é o PAC. Ele resgatou um passivo de obras visíveis a olho nu. Mas a capacidade pública de investir tem limites.
Era necessário que o PAC fosse sucedido por um outro passo, dado na quarta-feira passada com o Programa de Investimento em Logística, mais largo ainda.

Não foi um passo largo demais licitar 21 concessões em 13 meses?
Foi. O conjunto do que foi proposto em termos de rodovias e ferrovias é estruturado e integrado e muda a face da infraestrutura de transporte do Brasil. Tínhamos feito até hoje 5.200 quilômetros de concessão de ferrovias. Vamos licitar 7.500. É evidente que licitar isso vai implicar um esforço muito grande.
Tem muito trabalho de campo a ser feito. Mas já temos acúmulo de conhecimento e experiência fundamentais para fazer no cronograma proposto.

A avaliação é que o maior avanço foi a criação da EPL (Empresa de Planejamento e Logística). O que muda no país a partir dessa empresa?
Um país de dimensões continentais como o Brasil não pode prescindir de uma empresa capaz de trabalhar com visão integrada entre os modos de transporte.
Ela será capaz de antecipar necessidades do país no campo da logística; identificar, desenvolver e estruturar bons projetos que cumpram essa finalidade. E ampliar a presença da iniciativa privada.
O governo pode fazer muito, mas não pode fazer tudo. Ela será um centro formulador indispensável para tomar decisões mais racionais.

Mas essa não seria a função do ministério? Vamos ter dois ministros pensando?
O ministério é responsável pelas políticas e diretrizes. Mas essas coisas precisam ser construídas, e a empresa cumpre esse papel de suporte no desenvolvimento.

Algumas concessões de ferrovias anunciadas são em áreas que já estão concessionadas. Como o governo vai fazer para ter as concessões de volta?
Já houve entendimentos com as concessionárias antes do lançamento do programa. Ocorreram reuniões e discussões para que, em comum acordo, elas devolvam esses trechos para que o governo possa fazer as licitações.

Isso não trará impacto financeiro para os concessionários?
Hoje temos extensões com baixo nível de aproveitamento. O modus operandi dessa devolução será tratado de forma cuidadosa para que não haja perda nem prejuízo.

No caso das rodovias, a exigência de que a concessionária tenha realizado 10% da obra de duplicação prevista antes de cobrar o pedágio será suficiente para garantir a execução do investimento total?
A implementação do programa vai exigir coordenação e monitoramento. Há uma concentração de investimentos em cinco anos.
Mesmo só podendo cobrar com 10% duplicado, o que é estímulo para que se avance rapidamente, sabemos que, nos passos necessários até a execução, há aspectos a serem vistos, como o ambiental. Temos que ter relação estreita com o Ministério do Meio Ambiente para que os licenciamentos funcionem.

O licenciamento continuará por conta do concessionário, como ocorre hoje?
O empreendedor é ele. Mas vamos acompanhar muito de perto para que todos os rituais possam ser cumpridos de maneira mais eficiente.

Quando faz concessão, o governo passa a ter um papel muito mais fiscalizador do que executor...
Isso vai significar contratos com muito mais exigências.

Como?
Em relação a compromissos, obrigações, prazos, sanções, metas e punições pelo que não seja cumprido.

E como o Estado vai se preparar para isso?
Reforçando o poder regulatório das agências.
Vivemos um ciclo de desenvolvimento que queremos sustentável e longo. E isso não se fará sem que a infraestrutura e a logística respondam muito bem. Queremos capacitar corredores, como a BR-153, que corta o coração do Brasil.
Vamos estar em condições, em poucos anos, de sair de Natal ao Rio Grande do Sul em rodovia duplicada.

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