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Entrevista - G. Lipovetsky

O luxo não conhece a crise e cresce no Brasil

PARA AUTOR FRANCÊS, EM CERCA DE DEZ ANOS, HAVERÁ MARCAS BRASILEIRAS DE ALTO PADRÃO

MARIA PAULA AUTRAN
DE SÃO PAULO

O luxo não conhece a crise. E está crescendo, sobretudo nos países emergentes, como o Brasil. Em cerca de dez anos, haverá marcas de luxo brasileiras. É o que diz o filósofo francês Gilles Lipovetsky, autor de "O Luxo Eterno", que esteve no Brasil para participar do evento "The New World of Luxury".

Para Lipovetsky, o luxo é hoje mais bem-estar do que marca. "Até quem mora na favela conhece e deseja marcas de luxo. O 'hiperconsumidor' não quer somente comer ou se vestir".

O filósofo diz que as pessoas compram porque a sociedade atual não suporta a repetição, precisa de novidade e o consumo é novidade sem risco, traz excitação.

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Folha - O que é o luxo hoje?

Gilles Lipovetsky - Hoje é mais importante falar da diversidade do luxo do que sobre o que ele é. Há diferentes estágios de luxo.

O desenvolvimento do premium, por exemplo, não é o luxo inacessível. Ao mesmo tempo, é algo caro, de boa qualidade.

Isso é o mais característico dessa época. Diferenciação da definição e nova combinação do luxo com artesanato, arte e moda.

É mais a experiência?

O consumo de luxo vai se desenvolver muito nas coisas que favorecem o momento, o bem-estar.

Por que uma mulher decide ir a um belo hotel com spa? Por causa do bem-estar. Os produtos para pele não são para ostentação, mas para seguir jovem. É mais importante parecer jovem que rica.

No Brasil, as mulheres são particularmente muito sensíveis a essa questão. Muitas me falam que, com 40 anos, estão velhas. Na Europa, não.

Hoje o luxo está nos restaurantes, no vinho, nos cosméticos, nas viagens no turismo. Não é uma bolsa Gucci.

Com a ascensão da classe média no Brasil e nos outros emergentes, o que muda?

O público do mercado de luxo explodiu em nível mundial. E, cada vez mais, há pessoas muito ricas e também uma classe média na China, na Rússia, no Brasil e na África. O resultado é que as cifras do mercado de luxo mundial dobraram entre 1995 e 2007.

Nos países emergentes, se usa luxo por valorização social. Na Europa, é algo mais emocional. Nos emergentes, ele é marcado pela ostentação, mas também há o público que quer coisas mais emocionais. Será uma mistura.

O alto luxo vai mudar de cara com a classe média?

Sim. Nos anos 1950/60, o salmão era muito caro. Depois todos podiam comprá-lo. Logo veio o salmão selvagem, que custava o triplo. A difusão das marcas não as mata; você recria a raridade com preços maiores.

E há o exemplo das parcerias de grandes nomes com lojas populares.

Essa é a novidade do luxo e todo mundo ganha com isso. A H&M [multinacional de roupas] com Lagerfeld, por exemplo: a loja fez uma publicidade enorme e Lagerfeld, o criador de alto luxo, mostra que também é capaz de fazer coisas muito populares.

É o contrário de tudo o que ensinam nas escolas de negócios.

Você disse que haverá marcas brasileiras de luxo em cerca de dez anos. Como isso vai acontecer?

Não sou um homem de negócios, mas há muitos modelos. Há a indústria brasileira de produtos de cosméticos, que já é de muito boa qualidade.

E há as grandes marcas ocidentais que querem vir para o Brasil e vão trabalhar com criadores brasileiros.

Ou o modelo da Hermès na China, que criou uma marca chinesa lá. Tudo é possível, o luxo muda.

A Armani, por exemplo, não é velha. Tem 30, 40 anos e, nesse tempo, criou uma marca de luxo mundial.

Por que os brasileiros não poderiam fazer?

Dos Brics, qual é o mais promissor no mercado do luxo?

Acho que é a China, pelo tamanho. Os chineses são os primeiros consumidores do mundo de produtos de luxo.

O Brasil tem um enorme potencial. O luxo não conhece a crise. Houve a crise do subprime e, seis meses depois, ela ficou para trás.

Os especialistas dizem que em dez ou vinte anos o mercado de luxo terá um crescimento anual de 7% a 9% no mundo.

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