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Sucata vira design, que vira móvel, que vira ONG

Com sobras de filtro, empresário reinventa a metalúrgica de seu avô

Assinados por Rodrigo Almeida, luminárias e bancos ganham site, contagiam operários e chegam a projeto social

MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO

Ele queria ser ator e fez de tudo para não trabalhar na metalúrgica da família, a Screens do Brasil.

Mas a preocupação ambiental em relação às sobras industriais -cilindros ou telas aramadas em aço inox de diversos tamanhos- levou Rodrigo Edelstein, 33, a se envolver num projeto que está transformando a sorte da empresa fundada pelo avô, Inal Carvalho, e hoje comandada pela sua mãe e por seu padrasto.

"Reciclar o aço inox demanda um gasto de energia enorme, por isso a ideia de reaproveitar o material de uma outra forma", diz.

Edelstein resolveu chamar alguns designers para ver o que seria possível fazer com as sobras. Como não conhecia nenhum, recorreu ao Facebook. "Pedi sugestão de nomes aos amigos." Chegou a Rodrigo Almeida, um dos mais badalados designers da nova geração.

"Mandei uma mensagem pra ele, na cara de pau, e no dia seguinte estava tomando um café na casa dele." Um mês depois, nascia a coleção Morfológicos, exibida no mês passado na Casa Eletrolux, durante o "Design Weekend São Paulo", sob curadoria de Waldick Jatobá.

A primeira coleção do Rodrigo Almeida inaugurou a Meji Design, ainda uma empresa virtual, que funciona dentro da Screens, em Cotia, na Grande São Paulo.

"Adorei o material e foi muito simples criar", diz Almeida, que bolou com os cilindros de aço cadeiras, bancos, luminárias e outros objetos cuja trama lembra trabalhos de cestaria.

"É importante esse apoio e essa interação com a indústria. O design brasileiro trabalha em escalas muito pequenas, é quase artesanal."

SOB MEDIDA

Com 50 funcionários, a Screens produz filtros sob medida, principalmente para as indústrias de papel e celulose e de etanol.

São peças ou muito pequenas ou muito grandes, que podem pesar até 500 quilos. São feitas de arames de aço inox que se fundem por meio de eletro-soldas. As peças são extremamente resistentes, feitas para sobreviver a condições extremas de temperatura, impacto e vibração.

Assim como os filtros, as peças criadas a partir das sobras são praticamente únicas. Dependendo da quantidade de sobras, dá pra fazer mais de um exemplar, ainda que com pequenas variações.

Por ser tudo muito novo, ainda não há definição sobre como comercializar as peças, se por meio do site ou em lojas de decoração.

Além de assinar a primeira coleção, Almeida ficará como diretor de arte da Meji.

A ideia agora é convidar outros designers, do Brasil e de fora, para criar a partir das sobras. E também divulgar o material e suas possibilidades para arquitetos e decoradores.

"Queremos ampliar os horizontes da Screens, abrindo um novo segmento de negócios", diz Edelstein, que com o projeto se transformou em diretor de novos negócios.

"Quero que os arquitetos olhem para esse material e vejam que pode ser usado em pisos, parede externa, interna, teto..."

Com trabalhos mais conceituais, ligados à questão da sustentabilidade, a Meji vai funcionar como uma vitrine para esse novo segmento.

SURPRESA

Os efeitos do novo projeto já começaram a ser sentidos no chão de fábrica. Há uma semana, Edelstein se surpreendeu ao ver uma cadeira criada a partir de sobras na sua sala. Foi obra do Capim, caldeireiro da metalúrgica. "Eu amei, ele fez da cabeça dele", diz Edelstein.

Almeida também amou e assim surgiu a segunda coleção da Meji, a Meji Fábrica. "Queremos estimular as pessoas que trabalham na empresa a pensar em cima do que elas estão fazendo."

No dia seguinte, Capim recebeu de presente um pé de mesa garimpado pelos dois Rodrigos num ferro-velho e a missão de criar uma mesa com as sobras da Screens.

Sob o efeito da iniciativa do Capim, a dupla agora quer levar os materiais para desenvolver oficinas de design para crianças e adolescentes do Instituto Girassol, projeto social apoiado pela Screens em Cotia.

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