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Medidas do governo Dilma podem ser 'tiro no pé', afirma economista

MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO

Para a economista Lia Valls Pereira, da FGV, o governo brasileiro deve mostrar por que escolheu certos produtos para sobretaxar: "Não está claro se há uma política industrial por trás disso", diz. Na lista, há de óleos minerais a produtos para fotografia. A seguir, a entrevista.

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Folha -Quem é mais protecionista Brasil ou EUA?

Lia Valls Pereira -A média das tarifas de importação é mais elevada no Brasil do que nos EUA. O problema é que no mundo atual não é só a tarifa que importa. Os países muitas vezes adotam tarifas baixas e utilizam outras formas de proteger seus mercados, como as barreiras técnicas e sanitárias. Mas a discussão não deve ser quem é mais protecionista. E, sim, se esse tipo de medida interessa ao Brasil e qual é o impacto sobre a economia brasileira.

Pode atrapalhar o Brasil?

Mesmo que esteja dentro das regras da OMC, o aumento das tarifas de importação feito pelo Brasil foi substancial em alguns produtos. Precisamos mostrar por que escolhemos esses produtos. O que queremos com isso? Se não, fica parecendo protecionismo, como a Argentina faz.

O governo diz que é para proteger a indústria. É eficaz?

Os próprios EUA servem de exemplo. Na década de 80, a moeda americana estava valorizada, e os juros, altos. Eles sofreram uma enxurrada de importados. Havia o discurso: "O resto do mundo é protecionista e nós, que somos abertos, sofremos uma enxurrada de produtos".

Eles elevaram as barreiras e todos os países reclamaram, dizendo que o problema não era do resto do mundo, mas da política econômica americana e da falta de competitividade da sua economia. Se o Brasil está sofrendo uma enxurrada de importações, qual é o motivo? Se os importados são um problema para certos setores, há instrumentos de alívio temporário, como as salvaguardas. Mas se a enxurrada atinge todos os setores, há um problema maior.

Qual é o diagnóstico?

O governo tem feito medidas para elevar a competitividade, como a desoneração da folha. Tem que melhorar a infraestrutura. Mas, se olhamos a lista dos produtos [sobretaxados], não está claro se há uma política industrial por trás disso. Parece que o governo aumentou a tarifa só porque os setores têm deficit.

O governo diz que estímulo monetário é protecionismo.

Não digo que eles [EUA] não fazem. Mas neste jogo é preciso avaliar se a medida protecionista não acaba sendo um tiro no seu próprio pé.

Os EUA podem retaliar?

O Brasil está legalmente dentro dos limites da OMC. Assim como tivemos vários conflitos comerciais com os EUA nos anos 80, podemos criar uma arena de conflito comercial. Se os EUA quiserem, podem questionar na OMC as exigências de conteúdo nacional. Embora muitos países as adotem, se ninguém reclama, não há problema. Mas podem questionar.

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