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Perfil - Carolina Ignara

Volta por cima

(...)Após perder o movimento das pernas, a consultora viu que podia utilizar sua experiência em um novo negócio

FILIPE OLIVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando faz uma palestra, a consultora Carolina Ignara começa falando da importância do trabalho. Ele traz liberdade, dignidade e independência, defende ela.

Carolina segue a lição. Um acidente de moto que tirou os movimentos de suas pernas quando tinha 25 anos só a afastou de suas responsabilidades por três meses.

Na época, trabalhava na empresa Movimento, que presta consultoria em qualidade de vida. Planejava e aplicava atividades físicas para outras empresas.

Conta que voltou graças ao apoio de sua chefe. De Andressa Pinheiro, ouviu: "Você é a mesma pessoa, só não mexe mais as pernas".

O retorno foi difícil, conta. Tinha de trabalhar de casa, tomava medicamentos fortes e que davam sono. "Eu me sentia mal porque dormia até as 11h e produzia menos."

Demorou um ano para a adaptação à situação física ser completa e Carolina voltar ao escritório, dirigindo.

A última barreira era o medo do preconceito. Demorou mais seis meses para dar uma aula de ginástica laboral, em uma cadeira de rodas.

Foi quando uma empresa contratou uma funcionária também cadeirante. Acharam que ela se sentiria bem se Carolina desse a aula. "Ninguém perguntou como eu me sentiria", brinca.

Ela conta que tremia de medo de não conseguir atrair a atenção dos funcionários e fazê-los levantar para se alongar. Mas viu que o medo não era necessário: "Acho que meu sorriso na cadeira atraiu a atenção de todos", diz.

EMPREENDEDORA

Aos 33 anos, Carolina dedica a vida para que, como ela, outras pessoas com deficiência entrem para o mercado. Para isso, abriu a consultoria Talento Incluir.

Ela diz que sempre teve o sonho de empreender, só não sabia como. A ideia de criar a consultoria veio do contato que tinha com profissionais de RH quando levava atividades físicas às empresas.

Começaram a pedir a ela indicações de profissionais com deficiência, devido à obrigações da lei de cotas.

Ainda pela Movimento, começou a dar palestras sobre deficiência e trabalho. Em 2008, percebeu que poderia crescer mais se tivesse sua própria empresa.

A Talento Incluir tem dois focos principais. O mais forte é a atuação junto às empresas levando treinamento, cursos, consultorias de acessibilidade e avaliação de como aproveitar melhor profissionais com deficiência.

Agora a empresa pretende crescer no apoio a quem quer entrar no mercado. Para isso, divulga vagas e oferece orientação sobre como se portar na entrevista de emprego, se vestir, falar de sua deficiência.

Para esse serviço, não cobra nada e realiza um acompanhamento de seis meses após a contratação.

Ela estima que tenha participado da contratação de mais de cem pessoas que procuraram a sua empresa.

Apesar de não gostar das cotas, diz que são importantes, pois a pessoa com deficiência nem sempre tem oportunidade de investir em formação cultural: "Passamos da visão do coitadinho para o desqualificado, mas ainda é preciso melhorar".

Carolina se diz orgulhosa por ter conseguido fazer de um trabalho de responsabilidade social também uma oportunidade de negócio.

"Nossa intenção é crescer cada vez mais. Queremos ficar bem financeiramente, mas temos de ser cuidadosos. Trabalhamos com pessoas."

Em 2011, a empresa cresceu de três para oito funcionários -da equipe, três são deficientes- e aumentou o espaço físico.

Entre seus clientes estão Itaú, Santander, Ambev, Vale e Gafisa.

E trabalho nunca mais faltou. Se não está na empresa ou em visita a clientes, Carolina pode estar em viagem para dar consultorias em outros Estados -são pelo menos duas por mês.

"Sou muito cobrada e adoro quando meu trabalho me desafia. Ele me completa. Vejo a diferença que ele faz na vida das pessoas."

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