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"Governo tem que parar de interferir"

Mark Mobius, presidente de fundo de US$ 48 bi, diz que é preocupante ingerência estatal em Vale, Petrobras e bancos

Investidor afirma não se incomodar com inflação e que ainda confia no potencial da economia brasileira

Daniela Toviansky/”Valor”
Mark Mobius, presidente do fundo Templeton, que investe US$ 48 bi em ativos de emergentes, como Vale e Petrobras
Mark Mobius, presidente do fundo Templeton, que investe US$ 48 bi em ativos de emergentes, como Vale e Petrobras

DE SÃO PAULO

O governo brasileiro precisa parar de interferir tanto na economia e deve deixar de usar empresas como a Petrobras e a Vale para prestar "serviços públicos".

Esse é o recado de Mark Mobius, presidente-executivo do Templeton Emerging Markets Group, que administra US$ 48 bilhões em ativos de mercados emergentes

-US$ 5 bilhões no Brasil.

O fundo é grande investidor em papéis de empresas como Itaú Unibanco e Bradesco, além de Vale e Petrobras, mas vem diminuindo nos últimos meses sua participação nelas.

A seguir trechos da entrevista concedida à Folha por telefone, de Cingapura.

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Folha - O senhor escreveu recentemente que, entre os países dos Brics, o Brasil é o que desperta mais preocupações. Por quê?

Mark Mobius - O governo brasileiro enfrenta um grande dilema. O real valorizado está prejudicando as exportações, principalmente as de manufaturados. Mas o governo não pode permitir que o real desvalorize demais, sob risco de ter uma inflação fora do controle, experiência que já teve no passado.

Por enquanto, não estou preocupado com a inflação, mas não sei por quanto tempo o governo brasileiro vai conseguir manter essa situação sob controle.

Quais são os principais problemas do Brasil hoje, do ponto de vista do investidor estrangeiro?

É extremamente preocupante a maneira como o governo vem intervindo em empresas de capital aberto como a Vale e a Petrobras.

Elas estão sendo usadas cada vez mais para prestar serviços públicos, o que não é a função delas e prejudica a boa governança corporativa dessas companhias.

A intervenção do governo nos bancos também é muito preocupante -o governo pressionar as instituições financeiras para que reduzam os juros cobrados de clientes é uma atitude que vai contra as leis do livre mercado.

Há maneiras mais eficientes de fazer isso, aumentando a concorrência.

Em parte, o governo fez isso com os bancos públicos, mas não é prudente forçar as instituições financeiras a fazer alguma coisa. Se essa tendência se mantiver, poderá acarretar grandes problemas à economia.

O baixo crescimento do PIB deste ano, que não deve superar 1,5%, preocupa?

É claro que gostaríamos de ver o Brasil crescendo mais, mas eu não estou especialmente preocupado com esse aspecto. Estou otimista com as perspectivas de crescimento do Brasil, desde que o governo deixe de interferir tanto na economia. As mudanças do governo Dilma em regulamentações também são muito perigosas.

Outros países da América Latina, como o México, estão mais atraentes do que o Brasil para investidores?

Em comparação com o México, o Brasil ainda é uma economia muito grande, embora o México esteja crescendo mais. O Brasil é mais vibrante em muitos aspectos, entre eles, o mercado consumidor em crescimento e a abundância de recursos naturais, não apenas minerais, mas também agrícolas. Nesse sentido, o Brasil está melhor que o México. Continuamos muito confiantes a respeito da economia brasileira.

(PATRÍCIA CAMPOS MELLO)

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