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Samuel Pessoa

EUA patinam, mas caminham

Indicadores sugerem que a economia dos EUA estará totalmente normalizada na virada de 2015 para 2016

Há duas semanas o Labor Bureau of Statistics (órgão do governo dos EUA responsável pelas estatísticas ligadas ao mercado de trabalho) divulgou os dados de setembro. A boa notícia foi a redução da taxa de desemprego, de 8,1% para 7,8%.

Completando as boas notícias, essa queda de desemprego ocorreu simultaneamente à leve elevação da taxa de participação -que é a razão entre as pessoas em idade ativa e as em idade ativa que se apresentam ao mercado de trabalho, também chamada de população economicamente ativa (PEA).

Ou seja, a queda do desemprego não resultou da menor procura por trabalho e, consequentemente, da elevação da população desalentada (população que desistiu de procurar emprego e, portanto, retirou-se da PEA).

A má notícia foi que o número de desempregados há 25 semanas ou mais não caiu, e o número de trabalhadores com emprego em tempo parcial por motivo econômico subiu de 8 milhões para 8,6 milhões.

A economia americana continua patinando, mas caminhando. Se mantiver esse ritmo, em mais três anos e meio a taxa de desemprego atingirá 5,2%, que não deve ser muito diferente da taxa natural de desemprego. Evidentemente essa estimativa é uma simples extrapolação da lenta recuperação do mercado de trabalho desde o pico de desemprego, em outubro de 2009.

A crise aguda de setembro de 2008 foi uma crise bancária com parada súbita do crédito em razão do estouro de uma bolha imobiliária que, dada a sua dimensão, contaminou diversos outros mercados. A crise tornou-se crônica devido à queda da demanda das famílias que tiveram que elevar suas poupanças para pagar suas dívidas.

As empresas, por sua vez, reduziram o investimento pois não havia e ainda não há perspectivas de que terão demanda crescente que justifique a elevação da capacidade instalada.

Assim como a taxa de desemprego, o grau de endividamento das famílias também apresenta lenta redução. No auge da bolha, a dívida bruta das famílias atingiu 100% do PIB. Hoje se encontra na casa dos 80%, reduzindo ao ritmo de cinco pontos percentuais do PIB por ano.

Mantido o ritmo, estará pouco acima de 60% até o fim de 2015, quando o processo de redução da dívida das famílias deve estar completo.

A dinâmica do desemprego e a desalavancagem das famílias sugerem que na pior das hipóteses a economia americana estará totalmente normalizada na virada de 2015 para 2016.

COPOM

Na quarta, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto, para 7,25% ao ano. O comunicado afirma:

"Considerando o balanço de riscos para a inflação, a recuperação da atividade doméstica e a complexidade que envolve o ambiente internacional, o comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear".

Tive grande dificuldade de entender o significado da expressão "não linear". Não posso imaginar que o Copom acredite que o movimento da inflação possa ser associado (ou em alguns momentos não) à trajetória de uma linha reta. Assim, tive que recorrer ao "Houaiss".

No verbete "linear", soube que um dos significados (em sentido figurado) da locução "não linear" é: "Cuja trajetória é pontuada de desvios, percalços ou complicações; com altos e baixos".

Parece que o Copom prevê grandes oscilações da inflação, para cima e para baixo, e avisa o mercado que não reagirá a essas oscilações.

ERRATA

O texto da coluna da semana anterior sugere que os dados referentes à indústria geral da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE incluem a indústria da construção civil. Esse fato é verdadeiro para a indústria das contas nacionais trimestrais. A indústria geral da PIM refere-se só à agregação da indústria de transformação com a indústria extrativa. Agradeço a observação ao meu colega do Ibre Regis Bonelli.

SAMUEL PESSÔA é doutor em economia e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. Escreve aos domingos nesta coluna.

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