Presidente do Citi renuncia após discussão

DO "FINANCIAL TIMES", EM NOVA YORK

Vikram Pandit chocou Wall Street ontem ao renunciar ao cargo de presidente-executivo do Citigroup, depois de um conflito com o conselho sobre uma série de recentes equívocos do banco.

Pandit se demitiu depois de uma tensa discussão com o conselho anteontem, dizem fontes ligadas ao Citi.

Uma delas disse que os motivos do choque foram: a reprovação do Citi nos testes de desgaste financeiro do Fed (BC dos EUA), no começo do ano, a derrota em uma votação sobre o plano do presidente-executivo para definir remunerações e a condução dada à venda da participação do grupo na corretora de valores Smith Barney ao grupo Morgan Stanley.

John Havens, vice-presidente de operações do Citi e um dos principais assessores de Pandit, foi descrito como "apoplético" diante do tratamento do conselho ao seu chefe e também se demitiu.

A crise representa o mais recente revés para o banco, que conta com ativos totais de US$ 1,9 trilhão.

Quando foi criado, em 1998, após fusão entre a Citicorp, de John Reed, e o grupo Travelers, de Sandy Weil, era visto como um modelo de supermercado financeiro moderno. Mas desde então enfrentou dificuldades e escapou por pouco da estatização, no pico da crise financeira.

O banco recebeu ajuda bilionária do governo entre 2008 e 2009. Quitou a dívida e voltou a dar lucro em 2010.

O Citi descreveu a saída de Pandit, depois de cinco anos no comando, como amigável.

O SUCESSOR

Seu sucessor é Mike Corbat, 52, que trabalha para o Citi desde 1983. Sua função mais recente foi o comando das operações na Europa, no Oriente Médio e na África.

Antes, dirigiu o Citi Holdings, criado para deter os ativos tóxicos do Citi. Essa era uma parte essencial da estratégia de Pandit para reconquistar a confiança do consumidor.

O anúncio surgiu um dia depois de o banco divulgar lucro de US$ 2,9 bilhões no terceiro trimestre. O resultado foi inferior ao do mesmo período de 2011, mas superou as expectativas.

Embora Pandit tenha trabalhado com o conselho para definir sua sucessão, sua saída não era esperada antes que o Citi concluísse sua reabilitação pós-crise.

Pandit se tornou presidente-executivo em 2007, depois que seu predecessor, Charles Prince, renunciou no momento em que o banco começava a dar prejuízos com a crise dos empréstimos imobiliários de risco ("subprime").

Por boa parte de seu período na presidência, Pandit recebeu um salário simbólico de US$ 1 ao ano -cumprindo um voto pessoal de austeridade. Mas o fez depois de lucrar mais de US$ 160 milhões com a venda de seu fundo de hedge, o Old Lane, ao banco.

Tradução de PAULO MIGLIACCI