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Cifras & letras

Crítica economia

Livro levanta bandeira do capitalismo por via tortuosa

Retórico, autor cai na militância ao defender que sistema não é 'arena amoral'

OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apaixonada defesa do livre mercado em sua versão ultraliberal, "A Moralidade do Capitalismo" é mais militante do que reflexivo.

Com entrevistas e textos curtos de vários autores, o livro é editado por Tom G. Palmer, executivo da Atlas Network, organização que congrega várias instituições que defendem essa variação do capitalismo.

A tese do volume é que o capitalismo não é "uma arena amoral", como retratado por aqueles que querem sabotá-lo ou destruí-lo.

A afirmação acaba sendo apenas retórica, já que o autor não se detém sobre os limites dessa moralidade.

Como o objetivo principal da atividade capitalista é a obtenção do lucro, supõe-se que outras variáveis, como a ética, estariam a ele subordinadas.

Palmer, no entanto, não enfrenta a questão. Em vez disso, prefere desancar o comunismo soviético, como se, mais de duas décadas depois da queda do Muro de Berlim, tal crítica ainda fosse indispensável.

Mesmo ao bater em Karl Marx (1818-1883), ele às vezes o faz por vias tortuosas, mirando marxistas que foram engolidos pela obscuridade, como o sociólogo Werner Sombart (1863-1941), que no fim da vida se aproximou do nazismo.

O livro diz mais a que veio quando ataca o que Palmer chama de "capitalismo de compadres".

Trata-se de "um sistema que tem confinado tantas nações à corrupção e ao atraso". E que exemplo ele cita? "Infelizmente, [...] é um termo que cada vez mais se aplica à economia dos Estados Unidos da América."

Na realidade, Palmer está criticando o "resgate" de empresas falidas. Não cita textualmente o que ocorreu depois da crise de 2008, mas é evidente que tem esse cenário em mente.

Mais uma vez, o autor deixa de lado uma questão central: seria melhor, então, permitir que bancos e grandes empresas quebrassem, mesmo sob o risco de deflagração de uma crise sistêmica?

O livro incensa os economistas ultraliberais, com destaque para Milton Friedman (1912-2006) e Friedrich Hayek (1899-1992).

Dedica espaço generoso também a Ayn Rand (1905-1982), a criadora do conceito de "egoísmo racional" e guru de Alan Greenspan, o ex-presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, cuja atuação -o que Palmer não diz- está associada à crise de 2008.

Conferencista traquejado, Palmer recheia seu discurso com casos pessoais.

Ao abordar o conforto proporcionado pelas redes de telecomunicações, por exemplo, revela que "hoje conversei com amigos" de tantos países e "troquei comentários pelo Facebook" com amigos de outros cantos do mundo.

Nesse esforço de ganhar o leitor, Palmer conta uma ida ao médico. O objetivo é demonstrar que a medicina praticada com fins lucrativos é, sim, baseada na compaixão ("a busca do lucro exige que o médico considere os interesses do paciente").

E emenda a experiência pessoal com um médico de um hospital sem fins lucrativos: "Ele enfiou a agulha e injetou a medicação com uma força tão surpreendente que me levou a dar um berro".

É uma anedota que, afinal, justifica o subtítulo da obra: "O que os professores não contam".

OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "História da Imprensa Paulista" (Três Estrelas) e "A Aventura do Dinheiro" (Publifolha).

A MORALIDADE DO CAPITALISMO
AUTOR Vários, com edição de Tom G. Palmer
EDITORA Peixoto Neto
QUANTO R$ 29,90 (144 págs.)
TRADUÇÃO Gabriela Seger de Camargo
AVALIAÇÃO Ruim

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