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Renda de peruanos pode superar a de brasileiros na metade do século

Estudo do HSBC calcula que o Brasil ainda será uma nação de classe média daqui a 40 anos

Menos jovens e poucos investimentos deixam país em desvantagem na corrida pelo aumento das riquezas

MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO

Daqui a 40 anos, quando chegarmos à metade do século 21, o Brasil ainda deverá ser uma nação de classe média.

E verá passar à frente países hoje considerados nanicos, como o Peru, em termos de bem-estar da população.

A previsão, feita por economistas do HSBC, mostra que a renda dos brasileiros vai avançar até a metade do século, mas subirá apenas um degrau, do atual estágio de classe média baixa para classe média alta.

O status que hoje é celebrado pelas autoridades brasileiras -como fez a presidente Dilma Rousseff em recente entrevista ao "FT"- pode se tornar um retrato empoeirado na estante ao notar que países como Peru, Argentina, China, México e Turquia já terão alcançado a alta renda em 2050, segundo estimativas feitas pelo banco.

Um dos determinantes na corrida pelo aumento da renda é a demografia, mostra o HSBC no relatório "Consumer in 2050 -The Rise of the EM Middle Class" (Consumo em 2050 -O Crescimento da Classe Média dos Emergentes). Economistas estimam que o país viverá o que se convencionou chamar "bônus demográfico" até o fim da década de 2030.

MENOS JOVENS

Até lá, haverá mais pessoas em idade para trabalhar do que aposentados e crianças. Depois desse período, a balança virará e um contingente menor de trabalhadores terá que produzir riqueza suficiente para distribuir para crianças e idosos. Em 2050, segundo o HSBC, haverá mais idosos do que crianças e adolescentes (até 19 anos) e, portanto, ainda menos futuros trabalhadores.

Países como Peru e México terão uma estrutura etária mais vantajosa em 2050. No Peru, os maiores de 65 anos serão 16% da população, e, no México, 20%. No Brasil, deverão ser 23%.

Mas, até chegar ao desafio etário, o Brasil caminha pouco na solução dos problemas atuais, como a infraestrutura deficiente.

Com esse empecilho e uma poupança doméstica baixa -devido aos elevados gastos do governo-, o investimento é reduzido e o crescimento futuro, limitado.

"Nem do ponto de vista do fator trabalho [demografia], nem do ponto de vista do fator capital o Brasil tem vantagem", afirma o economista-chefe do HSBC para a América Latina, André Loes.

"A burocracia no Brasil tem um custo relevante e a dificuldade de fazer negócios encolhe os investimentos."

No curto prazo, o resultado é que, enquanto o Brasil deverá crescer em média 3% ao ano até 2014, o Peru, por exemplo, crescerá 6%, segundo as projeções do HSBC.

Loes argumenta, contudo, que o resultado não é determinante e a história poderá ser outra se o Brasil conseguir estimular investimentos privados e aceitar a imigração.

"O perfil demográfico dos EUA, por exemplo, continuará espetacular em nossas projeções, apesar da queda da fecundidade. Isso porque eles são um país que aceitam mão de obra estrangeira. É um país de imigrantes e continuará sendo um país de imigrantes", afirma.

A mudança da renda média dos países muda também o perfil de consumo de seus habitantes.

Passando da classe média baixa para a alta, os brasileiros deverão gastar mais com cultura, restaurantes e viagens. E despesas obrigatórias, como alimentação e vestuário, vão pesar menos no orçamento das famílias.

NA MESA

A mudança na renda implica alterações também no tipo de comida ingerida.

Com o status de classe média alta, os consumidores brasileiros gastarão menos com pães e cereais e aumentarão despesas com peixes e frutos do mar. Trocarão óleos por mais refrigerante nas cestas de compras. E despenderão parte maior da renda com livros, jornais e equipamentos para computador.

Apesar do alardeado avanço dos emergentes em relação às economias líderes, a renda média por habitante estimada para o Brasil em 2050 -de US$ 13.547 por ano (cerca de R$ 27.264 ao dólar atual)- ainda será equivalente a um quarto da dos americanos e 27% da dos ingleses.

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