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Herdeiros ficam mais livres para ir, ver e voltar

Filhos preferem se qualificar antes de assumir lugar dos pais empresários

Dezenas de cursos pretende preparar sucessores e sucedidos para a transição no comando da empresa

MARIANNA ARAGÃO
DE SÃO PAULO

Estudante de administração, o paulistano Guilherme Stefanini, 21, faz estágio em uma consultoria de gestão e pensa em abrir um negócio próprio nos próximos anos.

O fato de ser herdeiro da Stefanini, uma das maiores companhias brasileiras de TI, não o fez colocar a empresa -fundada por seu pai quatro anos antes de ele nascer- como única opção profissional.

"Minha família sempre me deixou livre para seguir meu próprio caminho. Se for para eu trabalhar lá, será porque mereço, pela experiência."

Guilherme faz parte de uma nova safra de herdeiros brasileiros, filhos de empreendedores que viram seus negócios florescer nas últimas décadas, com o crescimento econômico do país.

A nova geração, que tem em comum o desafio de gerir faturamentos bilionários, se mostra cada vez mais empenhada em buscar qualificação e experiência antes de assumir o negócio familiar.

"As famílias empreendedoras estão mais abertas a entender a vocação e o tempo de maturação de seus herdeiros", diz Maria Teresa Roscoe, professora da Fundação Dom Cabral e especialista em empresas familiares.

Segundo ela, a sucessão familiar era gerida de forma menos profissional nas décadas de 60, 70 e 80, quando os primeiros grandes grupos empresariais começaram a preparar seus herdeiros.

Hoje, há dezenas de cursos e treinamentos que ajudam os jovens a administrar a carreira e a expectativa sobre a sucessão nas companhias.

Participam dos programas não apenas os sucessores, mas também os empresários sucedidos e outros familiares (veja texto ao lado).

A opção do herdeiro para seguir uma trajetória própria, seja empreendendo em outra área ou trabalhando em corporações, também deixou de ser um grande tabu, diz André Ferreira, sócio de Mercados Estratégicos e Emergentes da Ernst&Young Terco.

O engenheiro Pitter Schattan, 25, trabalhou em banco de investimento e construtora antes de assumir um cargo na área financeira da Ornare, fabricante de móveis de luxo do pai, Murillo.

"Na empresa da família, você nunca está errado. A experiência em outras áreas e companhias me fez aprender coisas novas e me preparar melhor", diz Pitter, que também participa, com o irmão, de um curso de preparação de acionistas na Dom Cabral.

DESAFIOS

Apesar de não ter trabalhado fora da empresa fundada pelo pai, a Niely Cosméticos, a fluminense Danielle de Jesus, 26, assumiu a primeira chefia em 2010, após seis anos na companhia. Fez dois cursos voltados a herdeiros e cursa um MBA em marketing na UFRJ, após se formar em relações internacionais.

A Niely, que hoje fatura R$ 600 milhões, começou como uma modesta fábrica de produtos para cabelos na Baixada Fluminense, nos anos 80.

Os desafios que vai enfrentar no futuro, acredita Danielle, serão bem diferentes do que seu pai viveu - mas não necessariamente mais fáceis.

"O que foi um problema para ele lá atrás, como obter capital, já não é uma questão no Brasil de hoje. Por outro lado, hoje temos uma concorrência mais sofisticada".

Segundo ela, não há data para a passagem do bastão. Seu pai, Daniel, tem 53 anos.

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