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Os 7 anões da indústria

Quais são os setores que não ainda não conseguiram acompanhar a retomada de crescimento e que problemas ainda os estão envenenando

MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO

Em meio à centelha de retomada que começou a frequentar conversas de empresários e analistas sobre o ritmo da atividade econômica, foram sete os setores industriais que ficaram para trás nos últimos indicadores.

Em agosto, quando 20 dos 27 setores monitorados pelo IBGE mostraram recuperação, essa abrangência levou economistas a afirmaram que a retomada havia extravasado o núcleo beneficiado por corte de impostos e se disseminado pela indústria.

Os motivos que levaram sete deles a perder o bonde resumem dificuldades vividas por todo o setor desde meados de 2010: baixa competitividade frente a importados, resultado de elevados custos para produzir no Brasil.

A produção do conjunto da indústria aumentou 1,5% em agosto ante julho. Mas, no ano, acumula perda de 3,4%.

A maçã envenenada eleita por praticamente todos os empresários é a taxa de câmbio que, na sua avaliação, deixa o produto brasileiro mais caro que o importado.

"Embora tenha havido avanços com a desoneração de tributos da folha de pagamentos e redução dos juros, o câmbio tem produzido impactos negativos na capacidade de formar preços e competir", diz Heitor Klein, diretor da Abicalçados (associação que reúne fabricantes de calçados e artigos de couro).

O setor foi um dos primeiros a ser beneficiado pela desoneração da folha de pagamentos, mas ainda acumula queda na produção de 4% no ano e, em agosto, bateu na trave, com recuo de 0,1%.

A desvalorização do câmbio para cerca de R$ 2 neste ano ainda não deixa o setor competitivo, afirma Klein.

Nos seus cálculos, para cobrir os custos crescentes com a carga tributária e trabalhistas e com juros do financiamento ainda elevados (mesmo com a queda da taxa básica), o dólar deveria estar ao redor de R$ 2,40.

"Se tivéssemos uma reforma tributária que simplificasse e reduzisse impostos, reformas trabalhistas que facilitassem as negociações diretas de patrões e trabalhadores e mais investimentos públicos não precisaríamos do câmbio para buscar competitividade", afirma Carlos Pastoriza, diretor da Abimaq (entidade que reúne fabricantes de máquinas), cujo setor amargou um recuo de produção de 2,6% em agosto.

Mas não parece que é o pessimismo de investidores com a crise que está abatendo o setor.

Segundo Pastoriza, o consumo de máquinas e equipamentos cresceu 3,7% entre janeiro e agosto, mas a produção recuou 3,1%.

"O consumo aumenta mas está sendo tomado pelos importados", afirma Pastoriza.

O setor recebeu incentivos do governo. A linha de crédito do BNDES para a compra de máquinas foi reduzida para 2,5% ao ano e os fabricantes têm desconto na folha. Doze tipos de máquinas importadas tiveram tarifa de importação elevada.

"Com esses incentivos, talvez o setor tenha chance de começar a se levantar no ano que vem", diz Pastoriza.

Outro problema lembrado por Klein, da Abicalçados, é o custo de logística. No seu setor, por exemplo, ele descreve entraves que levam produtores gaúchos a embarcar exportações em Santos (SP).

"Se estão atrasados ou com carga para buscar em Santos, os operadores de navios não param em Rio Grande (RS) e o exportador é obrigado a redirecionar a carga para não perder o prazo de entrega", narra o empresário.

Segundo André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, as dificuldades da indústria não desapareceram com o resultado positivo de agosto. "A despeito do crescimento, os fatores que explicaram a queda anterior da produção permanecem", afirma ele.

Mas pondera que um mês é pouco para avaliar o entorpecimento de certos setores, como perfumaria, que parece apenas ter tirado uma soneca em agosto.

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