São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2010

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Cartões têm 1º dia sem exclusividade

Empresas donas das maquininhas passam a aceitar mais bandeiras, mas custo para comerciante cai pouco

Entenda o que muda para o lojista, para as donas das máquinas, como Cielo e Redecard, e para os consumidores

CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO

O salão de beleza de Dôra Ribeiro, 59, é antigo em Belo Horizonte (MG).
"Estou aqui há 34 anos. Sou do tempo em que era possível rejeitar cartões de crédito", conta.
Mas o cenário mudou muito. Com três maquininhas de credenciadoras diferentes -Cielo, Redecard e American Express-, Dôra agora recebe 80% dos pagamentos em dinheiro de plástico.
A partir de hoje, a cabeleireira poderia reduzir o número de equipamentos, já que não há mais exclusividade entre as bandeiras de cartões e as credenciadoras.
A Redecard passa a aceitar também o cartão Visa e a Cielo, o MasterCard.
Mas a comerciante mineira diz que vai esperar para tomar qualquer decisão.
"Quero ver exatamente que taxas consigo renegociar com as empresas", pondera.

CUSTOS DOS LOJISTAS
As dúvidas também rondam estabelecimentos de outras partes do país.
A Fecomercio SP (federação dos comerciantes paulistas) destaca que o custo mais pesado para os lojistas, em relação aos cartões, não está no aluguel da maquininha -de R$ 100, em média, por mês- e sim nas taxas administrativas, cobradas sobre o valor de cada venda.
"Essas taxas podem chegar a 6%. Metade vai para a credenciadora e o restante, para o banco emissor do cartão", diz Fernanda Della Rosa, economista da federação.
A taxa média de administração no setor, argumenta a Abecs (associação das empresas de cartões), é 3%.
Mas, mesmo assim, é maior que em outros países.
Segundo o Sincopetro (sindicato dos postos de combustíveis paulistas), no Mercosul, a média é 1%.
Outra discrepância é o tempo que o lojista leva para receber o dinheiro das vendas feitas em cartão no Brasil: até um mês.
"No exterior, o prazo não supera uma semana", diz José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro.
E a situação no Brasil não deve mudar tão cedo, de acordo com a própria Abecs.
"A demora acontece porque o consumidor, aqui, tem até 40 dias sem juros para pagar a fatura. Nos Estados Unidos, os juros são cobrados dois dias depois da compra", diz Paulo Caffarelli, presidente da Abecs.

DUOPÓLIO
Com 97% do total das transações em cartão feitas no país, Cielo e Redecard, juntas, fecharam 2009 com lucro líquido de R$ 2,9 bilhões.
"É um duopólio. E dificilmente duas empresas já estabelecidas vão gerar uma concorrência que promova a redução de tarifas", diz Luiz Gustavo Medina, economista da M2 Investimentos.
Medina acredita que uma queda de taxas só vai acontecer caso uma terceira empresa entre no mercado com força, com uma proposta de negócios diferente.
"Como ocorreu na aviação, com a Gol. Com bilhetes virtuais e sem oferecer refeições a bordo, a empresa derrubou as tarifas", completa o economista.
Já a consultoria AT Kearney aposta que o aumento do número de companhias no mercado derrube as taxas administrativas em até 30% nos próximos cinco anos.
"Mas, de que forma essa redução seria repassada ao consumidor final, é preciso acompanhar para ver," diz o diretor Ilnort Saldívar.


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