São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Maníacos e depressivos


Krugman vê novo risco de Grande Depressão; após sair da UTI estatal, finança já fica menos eufórica


PAUL KRUGMAN, Nobel de Economia, tem dito que podemos estar à beira de uma Grande Depressão. Ué, essa não era a conversa de final de 2008, início de 2009? A recessão não começou a acabar no mundo rico no terceiro trimestre de 2009?
Krugman tem sido ridicularizado pelo exagero. Apanha na imprensa econômico-financeira de EUA e Reino Unido, apanha do Banco Central Europeu, apanha dos conservadores americanos, apanha do conservador governo alemão e de seus economistas hiperconservadores.
O Nobel "progressista" acha que os governos da Europa, liderados pela Alemanha, estão doidos de reduzir seus deficit e dívidas num momento em que o desemprego ainda é altíssimo. Krugman faz campanha contra aqueles que, em seu país, querem também a redução radical da despesa e da dívida pública.
Talvez a militância intelectual e a exposição cotidiana levem Krugman a exageros retóricos. Mas do outro lado da polêmica estão os adeptos do consenso que levou a economia global à quase catástrofe de 2008, "quase" porque o dinheiro público e o Estado evitaram o pior. Estão também os propagandistas das alegrias da finança e do mercadismo.
Houve uma recuperação espetacular dos mercados financeiros entre março de 2009 e março deste ano, financiada com jorros de dinheiro público barato. O otimismo da finança contagia a mídia econômico-financeira, com o que a vida pareceu ter voltado ao "business as usual": se houve algum tropeço nessa escadaria para o céu, foi culpa dos "governos gastadores".
Mas o desemprego nos EUA e na eurozona flutua em torno de 10%, sem contar o emprego precário. Maio e junho foram meses de pé no freio na manufatura mundial. Há um segundo ciclo de baixa no mercado imobiliário americano, que nem de longe será parecido ou terá consequências como o da queda iniciada no final de 2006. Mas vai atrapalhar.
A confiança do consumidor no mundo rico baqueou com a baixa nos mercados financeiros, em parte devida à crise da dívida europeia. O mau estado dos bancos europeus e a crise fiscal no continente travam um pouco as transações interbancárias e os juros estão estressados.
Para os sem-Nobel, parece difícil sentir aí o cheiro de Grande Depressão. Mas a grande recuperação até agora foi a da grande finança subsidiada pelo Estado. A demanda no mundo rico continua fraca, mesmo com taxas de juro zero e promessa de ficarem zeradas até fins de 2011.
Os governos estão meio quebrados. Há problemas que não vieram só da crise, como a baixa competitividade europeia em relação a uma Ásia que acumula capital de modo brutal e, para tanto, mantém salários e, pois, custos baixos. Estouradas as bolhas, financeiras e imobiliárias, não se vê uma fonte nova de dinamismo para as economias euroamericanas, embora os inventivos mercado e governo dos EUA costumem surpreender o planeta.
O pânico acabou, o fim do mundo não veio, mas a crise perdura e está mal parada. Se assim continuar, deve causar algum problema aqui no Brasil lá pelo ano que vem.

FÉRIAS
O colunista estará de férias quando o Brasil ganhar o hexa e até fins do mês. Ou ao menos espera que suas previsões esportivas sejam melhores que as econômicas.

vinit@uol.com.br


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