São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2011 |
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ANÁLISE País deve acertar a estratégia para o setor de açúcar e etanol PLINIO NASTARI ESPECIAL PARA A FOLHA A safra de cana-de-açúcar do Brasil em 2011 é reflexo do que ocorreu nos três anos anteriores. A crise de 2008 reduziu o capital de giro dos produtores, derrubando a taxa de renovação dos canaviais, tornando-os mais velhos e menos produtivos. Mas o maior efeito foi causado pelo clima atípico observado desde 2009. O excesso de chuvas em 2009 causou compactação do solo, trazendo falhas de rebrota nos anos subsequentes e gerando um contingente de 60 milhões de toneladas de cana que a indústria não conseguiu processar naquele ano. A intensa seca de 2010 anulou boa parte da cana excedente e inibiu o desenvolvimento das canas colhidas naquele ano. Agora, a seca seguida de geadas em junho e em agosto, o florescimento precoce e a infestação de pragas estão afetando sobremaneira a performance da colheita. O governo acompanha com atenção a evolução da safra e tem emitido sinais de que estaria disposto a alterar a regulação do setor, livre de intervenção desde 1999. A ANP (Agência Nacional do Petróleo) acerta ao indicar a disposição de estimular a contratação prévia de etanol visando estruturar o mercado e reduzir a elevada proporção das vendas ainda realizadas no mercado à vista, que geram oscilações de preço muito grandes nos períodos de safra e de entressafra. Nesta semana foi anunciada a redução da mistura de etanol anidro à gasolina, de 25% para 20%, a partir de 1º de outubro e por prazo indeterminado. Essa decisão surpreende e traz insegurança, tendo em vista a performance de produção e a garantia dos produtores de que não haveria falta de anidro para mistura à gasolina. As condições atuais de mercado permitem que o Brasil exporte etanol recebendo um prêmio pelo fato de ser oriundo da cana, ambientalmente mais limpo, e importe etanol de milho a preço abaixo daquele observado no mercado interno, ajudando a controlar as pressões adicionais de alta. De outro lado, ao optar pela redução da mistura, o governo obriga a Petrobras a importar mais gasolina em condições gravosas, pois seu preço no mercado mundial é maior do que o do mercado interno. A redução da mistura destrói 1,67 bilhão de litros de demanda anual de etanol anidro, volume equivalente a 2,8 milhões de toneladas de açúcar. A desoneração fiscal é uma boa medida, mas não combina com destruição de demanda, muito menos quando realizada de forma onerosa. Neste momento, o setor privado deve concentrar esforços na recuperação da produção agrícola e na redução dos custos de produção, a fim de recuperar a competitividade perdida nos últimos anos. A preocupação do setor público deve ser a de criar condições que induzam o retorno dos investimentos, para que seja atendida a crescente demanda dos mercados interno e externo. PLINIO NASTARI é mestre e doutor em economia agrícola e presidente da Datagro Consultoria. Texto Anterior: Por R$ 3 bi, China compra fatia do nióbio brasileiro Próximo Texto: Vaivém - Mauro Zafalon: Exportação de etanol é a maior em 22 meses Índice | Comunicar Erros |
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