São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2010

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Fantasmas da economia japonesa assombram os EUA

DO "NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO

Em 1997, Hiroshi Kato presidia um comitê de assessoria ao governo japonês. O grupo concluiu que o país, recuperando-se das bolhas imobiliária e de ações dos anos 80, estava pronto para aumentar o imposto sobre as vendas de 3% para 5%.
O aumento sufocou a recuperação e deixou o Japão à beira do colapso financeiro. "Nossos pecados foram sérios", diz Kato, hoje reitor da Universidade Kaetsu, de Tóquio. "Espero que o resto do mundo possa aprender com o nosso erro."
Em parte devido a esse conhecimento, as autoridades dos EUA sempre se sentiram confiantes de que seu país seria capaz de evitar destino semelhante. Mas essa confiança começa a desaparecer.

SEMELHANÇAS
A crescente pressão política nos EUA por cortes nos gastos federais, acompanhada pela queda na confiança dos consumidores e nos investimentos das empresas, levou economistas a preverem uma nova era de austeridade e contenção, semelhante ao que aconteceu duas décadas atrás ao Japão, que se afundou em deflação.
Os economistas agora voltaram a estudar o Japão a fim de determinar de que maneira os EUA poderiam escapar à deflação.
O Japão se manteve aprisionado numa espiral deflacionária a despeito de trilhões de dólares de estímulo, mais de uma década de taxas de juro perto de zero e medidas heterodoxas parecidas com as que Ben Bernanke (presidente do banco central dos EUA) agora contempla, como comprar títulos de empresas e do governo.
EUA e Japão são, no entanto, muito diferentes em termos culturais e políticos, e o Japão enfrenta diversos problemas particulares, como o rápido envelhecimento da população. O país também mantém as portas fechadas para a imigração e os trabalhadores jovens e ideias novas que isso poderia trazer.
Há quem advirta que, mesmo assim, os EUA podem escolher a resposta errada, especialmente se as eleições de meio de mandato presidencial resultarem em um racha político agudo. "O perigo é que os Estados Unidos caiam em paralisia decisória, como aconteceu no Japão nos anos 90", disse Shumpei Takemori, economista da Universidade Keio, em Tóquio.
Mas a abordagem norte-americana quanto a ajustes econômicos é a do "tratamento de choque", diz Edward Lincoln, diretor do Centro de Estudos de Economia e Negócios Japão-Estados Unidos, na Universidade de Nova York, enquanto "o Japão favorece a estabilidade e a socialização dos sofrimentos via grandes empresas".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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