São Paulo, domingo, 03 de abril de 2011

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Economia comportamental defende escolha irracional

Professor dos EUA fala sobre opções feitas fora da relação custo-benefício

Dan Ariely também acredita que bônus muito altos afetama concentração de executivos no trabalho

CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO

Diferentemente da economia tradicional, que prega que a relação custo-benefício direciona as decisões, a economia comportamental aponta que muitas escolhas são feitas irracionalmente.
Dan Ariely, 43, professor da Duke University, nos EUA, defende que nem sempre a irracionalidade é ruim.
"Tomamos muitas decisões maravilhosas irracionalmente", diz o pesquisador, autor de "Previsivelmente Irracional" e "Positivamente Irracional". Ele virá ao Brasil participar do Fórum HSM de Gestão e Liderança, no próximo dia 5.
A seguir, trechos da entrevista exclusiva à Folha.

Irracionalidade
Há duas versões de irracionalidade. A primeira é quando as pessoas não seguem as teorias econômicas e erram, como ao comprar ações na alta e vender na baixa, perdendo dinheiro.
Mas há decisões que tomamos fora da relação custo-benefício que são muito positivas para a sociedade. Por exemplo, aquelas baseadas em confiança -que é um conceito irracional.
Fizemos um experimento com pessoas oferecendo a elas uma quantia -como US$ 100- e duas possibilidades: ou elas iam embora com o dinheiro ou tinham a chance de dobrar o valor recebido, caso repassassem a quantia a um 2º grupo, apostando que, nele, haveria colaboração.
Quando repassado ao 2º grupo, o valor era quadruplicado. E os participantes desse grupo também tinham duas opções: ir embora com o dinheiro ou devolver a metade, portanto US$ 200, às pessoas que enviaram a quantia inicial.
Resultado surpreendente Pelo raciocínio do benefício individualista da economia tradicional, era de se esperar que ninguém enviasse dinheiro a desconhecidos. Mas, surpreendentemente, a maioria dos participantes do 1º grupo repassou a quantia. E a maior parte do 2º grupo devolveu a metade, para benefício de todos.
Motivações desse tipo, irracionais, guiam as pessoas o tempo todo. O que leva alguém a indicar corretamente o endereço de um restaurante a um desconhecido na rua, por exemplo?

Bônus e distração
As compensações não são sempre racionais, não têm unicamente a ver com dinheiro. E, muitas vezes, remunerações muito elevadas, como bônus de executivos, podem gerar estresse e distrair o profissional, até bloqueando sua criatividade.
O que o dinheiro faz é alterar a direção da sua motivação. Quando a quantia é alta, você fica focado no dinheiro e não se concentra em seu próprio trabalho.
Então, se é oferecido um grande bônus a um executivo para que ele tenha uma ideia brilhante, o resultado tende a não ser satisfatório.
As empresas, geralmente, cometem erros nas políticas de remuneração.
As companhias deveriam testar políticas de compensação diferentes para ver o que motiva mais a equipe, se são salários fixos, bônus ou benefícios específicos.


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