São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

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Grupos chineses se associam a ex-dirigente do PT

Estatais escolhem empresa com conexões políticas para disputar projetos de infraestrutura no Brasil

Alvos de investidores incluem o trem-bala, a hidrelétrica de Belo Monte e os campos de petróleo do pré-sal

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

Na parede atrás da mesa de trabalho do consultor de empresas Wladimir Pomar, há uma fotografia que mostra seu pai apertando a mão do primeiro-ministro chinês Chu En-lai ao final de um encontro político, em 1971.
O empresário Marco Polo Moreira Leite faz negócios com a China desde a década de 90, quando procurava produtos chineses para abastecer redes de varejo brasileiras e viveu perto de Pequim.
Os dois trabalham juntos hoje em dia, abrindo portas no Brasil para um punhado de gigantes estatais chineses que querem entrar no país.
Uma pequena empresa de comércio exterior que eles criaram há três anos, a Asian Trade Link (ATL), representa um consórcio interessado no trem-bala que ligará São Paulo ao Rio, uma indústria que quer vender turbinas para a hidrelétrica de Belo Monte e uma empresa que está de olho no petróleo do pré-sal.
"A China tem dinheiro e tecnologia", diz Pomar. "Em vez de ficar com medo, o Brasil deveria ter políticas para atrair esses investimentos."
Pode parecer ambição demais para uma empresa tão nova, mas Pomar e Moreira Leite têm uma vantagem que poucos possuem nesse ramo: uma vasta rede de relacionamento que ajuda a abrir caminho no Brasil e na China.

APROXIMAÇÃO
Filho de um dirigente do PCdoB que foi morto pela polícia na ditadura militar, Pomar, 74, participou da fundação do PT e é amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi o coordenador da primeira campanha presidencial de Lula, em 1989.
Moreira Leite, 66, começou a trabalhar com Pomar em 2002. Lula estava prestes a assumir o poder e os amigos de Moreira Leite na China o procuraram. "Eles queriam muito se aproximar do novo governo", diz o empresário.
Pomar levou o assunto a Lula e a dupla recebeu dinheiro do governo para realizar seminários promovendo o comércio entre o Brasil e a China. Eles participaram da organização da primeira visita de Lula à China, em 2004.
Na mesma época, Pomar apresentou à então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, o grupo Citic. A Eletrobras depois o contratou para construir uma usina termelétrica em Candiota (RS).
Pomar diz que evita tirar proveito de sua amizade com Lula para fazer negócios. Mas sabe como os chineses valorizam esse tipo de conexão. "Aprendi com eles que você precisa ter relações com todo mundo", afirma Pomar.
A ATL tem 13 sócios. Entre eles, estão o ex-vice-governador de Mato Grosso do Sul Egon Krakhecke, que é do PT e hoje é secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente.
Também são sócios o deputado estadual Jailson Lima, do PT de Santa Catarina, e o ex-deputado federal Luciano Zica, que deixou o PT para entrar no PV.
Os sócios da ATL investiram R$ 3 milhões para financiar as atividades da empresa. Krakhecke e Zica dizem que não acompanham seu dia a dia e nunca receberam rendimentos da ATL. Cada um entrou na sociedade com uma cota de R$ 200 mil.
Pomar e Moreira Leite negam que os outros sócios tenham sido chamados por causa de suas conexões políticas. "São apenas nossos amigos", diz Pomar. Ele se desligou da sociedade pouco depois da criação da ATL, mas continuou fazendo negócios com Moreira Leite.
"Os chineses não têm a menor ideia de quem são os meus sócios", afirma Moreira Leite, que preside a empresa. "Nossa relação é antiga e por isso eles confiam em mim."


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