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Grupos chineses se associam a ex-dirigente do PT
Estatais escolhem empresa com conexões políticas para disputar projetos de infraestrutura no Brasil
Alvos de investidores incluem o trem-bala, a hidrelétrica de Belo Monte e os campos de petróleo do pré-sal
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
Na parede atrás da mesa
de trabalho do consultor de
empresas Wladimir Pomar,
há uma fotografia que mostra seu pai apertando a mão
do primeiro-ministro chinês
Chu En-lai ao final de um encontro político, em 1971.
O empresário Marco Polo
Moreira Leite faz negócios
com a China desde a década
de 90, quando procurava
produtos chineses para abastecer redes de varejo brasileiras e viveu perto de Pequim.
Os dois trabalham juntos
hoje em dia, abrindo portas
no Brasil para um punhado
de gigantes estatais chineses
que querem entrar no país.
Uma pequena empresa de
comércio exterior que eles
criaram há três anos, a Asian
Trade Link (ATL), representa
um consórcio interessado no
trem-bala que ligará São
Paulo ao Rio, uma indústria
que quer vender turbinas para a hidrelétrica de Belo Monte e uma empresa que está de
olho no petróleo do pré-sal.
"A China tem dinheiro e
tecnologia", diz Pomar. "Em
vez de ficar com medo, o Brasil deveria ter políticas para
atrair esses investimentos."
Pode parecer ambição demais para uma empresa tão
nova, mas Pomar e Moreira
Leite têm uma vantagem que
poucos possuem nesse ramo:
uma vasta rede de relacionamento que ajuda a abrir caminho no Brasil e na China.
APROXIMAÇÃO
Filho de um dirigente do
PCdoB que foi morto pela polícia na ditadura militar, Pomar, 74, participou da fundação do PT e é amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi o coordenador da
primeira campanha presidencial de Lula, em 1989.
Moreira Leite, 66, começou a trabalhar com Pomar
em 2002. Lula estava prestes
a assumir o poder e os amigos de Moreira Leite na China
o procuraram. "Eles queriam
muito se aproximar do novo
governo", diz o empresário.
Pomar levou o assunto a
Lula e a dupla recebeu dinheiro do governo para realizar seminários promovendo
o comércio entre o Brasil e a
China. Eles participaram da
organização da primeira visita de Lula à China, em 2004.
Na mesma época, Pomar
apresentou à então ministra
de Minas e Energia, Dilma
Rousseff, o grupo Citic. A Eletrobras depois o contratou
para construir uma usina termelétrica em Candiota (RS).
Pomar diz que evita tirar
proveito de sua amizade com
Lula para fazer negócios.
Mas sabe como os chineses
valorizam esse tipo de conexão. "Aprendi com eles que
você precisa ter relações com
todo mundo", afirma Pomar.
A ATL tem 13 sócios. Entre
eles, estão o ex-vice-governador de Mato Grosso do Sul
Egon Krakhecke, que é do PT
e hoje é secretário de Extrativismo e Desenvolvimento
Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente.
Também são sócios o deputado estadual Jailson Lima, do PT de Santa Catarina,
e o ex-deputado federal Luciano Zica, que deixou o PT
para entrar no PV.
Os sócios da ATL investiram R$ 3 milhões para financiar as atividades da empresa. Krakhecke e Zica dizem
que não acompanham seu
dia a dia e nunca receberam
rendimentos da ATL. Cada
um entrou na sociedade com
uma cota de R$ 200 mil.
Pomar e Moreira Leite negam que os outros sócios tenham sido chamados por
causa de suas conexões políticas. "São apenas nossos
amigos", diz Pomar. Ele se
desligou da sociedade pouco
depois da criação da ATL,
mas continuou fazendo negócios com Moreira Leite.
"Os chineses não têm a
menor ideia de quem são os
meus sócios", afirma Moreira
Leite, que preside a empresa.
"Nossa relação é antiga e por
isso eles confiam em mim."
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