São Paulo, quinta-feira, 04 de agosto de 2011

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ANÁLISE PECUÁRIA

Bem-estar animal é fundamental para ter carne de qualidade

PAULO DE CASTRO MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A qualidade do bife é diretamente influenciada pelo acondicionamento da carne no supermercado que, por sua vez, decorre do processo de abate, que sofre interferência do manejo pré-abate, que é consequência do processo de recria e engorda, que é oriundo do processo de cria.
A definição é do professor Mateus Paranhos, da Unesp, campus Jaboticabal, o mais importante especialista brasileiro de bem-estar animal.
No momento em que a pecuária trabalha no melhoramento genético para, assim, gerar animais mais precoces e bem acabados, com carne mais macia e suculenta, lidar bem com os animais na fazenda e no transporte ao frigorífico deve merecer a devida prioridade dos produtores.
No entanto, há dúvidas de que esse tema esteja merecendo a necessária atenção da maioria dos pecuaristas.
Eles usam cada vez mais genética aditiva, fazem lição de casa em saúde e nutrição, investem em gestão e mão de obra, cuidam de instalações; mas talvez não tenham a mesma atenção a momentos específicos do manejo bovino.
São detectados vários problemas no manejo pré-abate, que resultam em aumento de hematomas nas carcaças, prejudicando a desejada carne de padrão superior.
Os mais importantes são: agressões; alta densidade social, provocada pelo manejo inadequado; instalações inadequadas; transporte inadequado, com caminhões e estradas em mau estado; e gado muito agitado, em decorrência do manejo agressivo.
Todos esses fatores elevam o nível de estresse dos bovinos exatamente no momento em que eles deveriam estar mais relaxados, uma vez que as pesquisas comprovam que a tensão impacta diretamente a maciez da carne.
Importante observar que, mesmo sob boas condições de transporte e em jornadas curtas rumo ao abate, o gado apresenta sinais de estresse.
A intensidade é obviamente variável, mas caracteriza uma situação típica de medo.
Ou seja: mesmo tomando todos os cuidados necessários não há segurança de preservação do estado de tranquilidade dos bovinos.
Tal cenário fortalece a necessidade de atenção redobrada na matéria-prima mais importante da cadeia.
Sem carne macia e suculenta no momento de venda ao consumidor, todo o processo é colocado à prova e a sensação é que a genética não é boa, o que pode não condizer com a verdade.
A pecuária brasileira está em um momento bastante particular, atraindo os olhos do mundo.
O desafio de dobrar a oferta global de carne bovina em quatro décadas só será vencido se o país ganhar definitivamente a confiança do mundo para o produto.
Há consenso de que aqui se cria gado a pasto e alimentado com forragens. Porém, isso não quer dizer que a carne seja de qualidade.
Cuidar do bem-estar do animal durante os momentos de manejo nutricional e, especialmente, no pré-abate são essenciais para ter a credibilidade necessária internacionalmente.

PAULO DE CASTRO MARQUES é empresário e pecuarista, proprietário da Casa Branca Agropastoril e presidente da ABA (Associação Brasileira de Angus).


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