São Paulo, terça-feira, 05 de abril de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Vale tem de se alinhar sempre, diz Lobão

Ministro afirma que a empresa "precisa contribuir mais fortemente para o desenvolvimento interno do país'

Fórum de empresários publica carta contra a intervenção do governo, que também é criticado na mídia estrangeira

DE BRASÍLIA
DE SÃO PAULO


O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, quebrou ontem o silêncio do primeiro escalão do governo Dilma e disse que a Vale "precisa contribuir mais fortemente para o desenvolvimento interno do país".
A afirmação de Lobão ocorre no momento de troca de cadeiras da presidência da mineradora, um desejo que o Planalto carrega desde o governo Lula.
"Desejamos que seja assim com a Vale, que esteja sempre numa linha de colaboração com o governo, para o interesse nacional. A produção de aço aqui é necessária ao povo brasileiro, à sociedade", disse Lobão.
Privatizada em 1997, a Vale tem, entre seus controladores, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.
A empresa sofre cobranças do governo para investir em siderurgia e desconcentrar a sua produção do minério de ferro bruto, com pouco valor agregado. No auge da crise de 2008, Lula também reclamou de demissões feitas pela empresa.
Questionado se, com a saída de Roger Agnelli do comando, ficará mais fácil mudar o perfil da segunda maior empresa brasileira, Lobão evitou criticar o executivo.
"Acredito que o próprio Agnelli se esforçava nesse sentido, mas ele estava lá havia dez anos", disse. "A saída dele não deve ser considerada um episódio anormal, o mandato dele iria até próximo mês. Ele é um profissional da maior categoria, cumpriu bem o papel."
Também ontem, uma entidade de empresários criticou a atitude do governo em relação à Vale.
O Fórum de Líderes Empresariais, instituição que congrega 1.235 empresários do país e é presidida pelo ex-presidente da Embraer Ozires Silva, divulgou uma carta a partir da qual questiona a forma como o governo interveio para afastar Agnelli. A Vale patrocina o Fórum.
Com o título "O que queremos, para onde vamos... E com quem?", o Fórum classifica a intervenção do governo na companhia como "indevida e inoportuna".
Diz ainda que empresas com as dimensões da Vale não podem estar submetidas a "solavancos" como o gerado no episódio.
Finho Levy, diretor-executivo do Fórum, criticou as declarações de Lobão. "A companhia já contribui com o país. O risco é que com essa intervenção a Vale passe a contribuir menos", disse.
A repercussão internacional também não foi muito favorável. A coluna Lex, publicada no jornal britânico "Financial Times", afirmou ontem: "Os investidores privados detêm ações na Vale porque a companhia brasileira é a maior produtora mundial de minério de ferro, e não porque serve como ferramenta para a política socioeconômica do governo".
A interpretação do jornal, um dos mais influentes do mundo, é a de que o governo tenta afastar Agnelli pelo simples fato de ele ser um "obstáculo político" aos planos do Planalto.
Até o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, em entrevista ontem ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, classificou a decisão de afastar Agnelli como "um equívoco" do governo.


Texto Anterior: Cotações/Ontem
Próximo Texto: Rombo em aeronave leva EUA a recomendar teste em Boeing-737
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.