|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
sociais & cia
Novos empreendedores aliam atuação social e busca pelo lucro
Movimento foi batizado de setor "dois e meio", caminho intermediário entre área privada e ONGs
Profissionalização da gestão nas organizações sociais, iniciada nos anos 90, contribui para formação do novo perfil
ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A distância que separa empreendedores empresariais,
com foco no mercado e na geração de lucros, dos empreendedores sociais, preocupados com a solução de
problemas sociais, é cada vez
menor.
Especialistas ouvidos pela
Folha relatam que há um
movimento crescente de empreendedores que buscam
aliar as duas lógicas (do lucro pessoal e do retorno social) em um mesmo projeto.
E isso vem atraindo mais a
atenção de quem não se enquadra nos estereótipos do
empresário que só pensa em
dinheiro ou do cidadão engajado que trabalha de maneira quase voluntária.
"É um fenômeno que chamamos de setor "dois e
meio", uma zona cinzenta
entre o segundo setor [privado] e o terceiro setor [organizações sem fins lucrativos]
que não para de crescer no
Brasil e no mundo", afirma o
coordenador do Centro de
Cooperação da FGV-SP
(CCGV), Ademar Bueno.
Parte do fenômeno tem
origem na profissionalização
da gestão nas organizações
sociais. Nos anos 90, a doação de recursos a projetos sociais pelas empresas deu lugar ao conceito de investimento social privado, no
qual os doadores passaram a
exigir avaliações detalhadas
do retorno social daqueles
recursos, com métricas e
comparações semelhantes a
um investimento financeiro.
Junto com a ascensão do
movimento de responsabilidade social no mundo empresarial, isso atraiu profissionais que nunca haviam
atuado em organizações sociais. Ao lado de engajamento, capacidade técnica e qualificação profissional também passaram a ser requisitos para trabalhar no setor.
"Se, nos anos 90, a questão central da ação social era
a profissionalização do setor,
das ONGs e fundações, nesta
década é justamente essa zona cinzenta entre segundo e
terceiro setores, com negócios sociais que garantem
sua própria sustentabilidade", reforça o secretário-geral do Grupo de Institutos,
Fundações e Empresas (Gife), Fernando Rossetti.
Uma combinação de fatores explica a expansão acelerada desse novo perfil de empreendedor nos últimos
anos. Um deles é a manutenção de médias salariais mais
baixas no terceiro setor em
relação ao restante do mercado, o que afasta profissionais em início de carreira e
em busca de uma situação financeira confortável.
RETORNO
Outro é o crescente interesse de financiadores de
olho no retorno -social e financeiro- dos projetos. A
expansão de fundos destinados exclusivamente a negócios sociais, que representam
uma espécie de versão sofisticada das instituições de microcrédito, é bom exemplo.
"Quando se fala hoje em
negócio social ou negócio
sustentável, isso não representa jogar a fundo perdido,
mas sim trazer retorno para
quem fez aquele investimento", afirma a fundadora da
Plataforma Sinergia, Rosana
Perroti, ela mesma uma representante dessa nova geração de empreendedores sociais.
Para a diretora do Instituto
para o Desenvolvimento do
Investimento Social (Idis),
Márcia Woods, a aproximação entre os perfis do empreendedor empresarial e do
social também provoca um
efeito curioso. "Já vemos casos de doadores tão engajados, participando não somente com recursos mas
também com soluções, que
eles mesmos podem ser chamados de empreendedores
sociais", conclui.
Texto Anterior: Tecnologia 2: Google faz parcerias para sistema de TV Próximo Texto: Frase Índice | Comunicar Erros
|