São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2010

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ANÁLISE AGRONEGÓCIO

Cenário atual do algodão é de preços em alta com oscilações


COMO OS ESTOQUES NÃO CONSEGUEM REGULAR AS OSCILAÇÕES, TEMOS A CONFIGURAÇÃO DO CENÁRIO DE VOLATILIDADE COM ALTA DE PREÇOS

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os preços do algodão no mercado internacional seguiram o padrão de forte queda das demais commodities no cenário marcado pelo início da crise em 2008.
Depois, a partir do final de 2009, o cenário é de recuperação dos preços.
Essa recuperação foi marcada por fortes elevações nas últimas semanas, restabelecendo o patamar de preços do período pré-crise.
Se, de um lado, parte da explicação para isso está na recuperação da demanda mundial, por outro está na redução da oferta, causada principalmente pelas enchentes no Paquistão.
O país é um dos quatro maiores produtores e exportadores mundiais de algodão (ao lado de EUA, China e Índia, com 75% da produção).
Com a revisão para baixo na produção mundial esperada para 2010/11, a previsão para a relação entre o volume de estoques e o consumo nesse período é de 37,7%, valor historicamente baixo -o menor desde 1993/94, tendo atingido 55% em 2008/09.
Esse cenário impõe uma pressão não só sobre os preços praticados no mercado mundial, mas também sobre a volatilidade desses preços.
Essa volatilidade decorre da combinação de incertezas sobre as condições climáticas, bem como sobre a política de restrição de exportações por parte de alguns grandes países produtores e exportadores, justamente durante o período de colheita nesses países.
Somando-se a incapacidade de os estoques regularem essas oscilações no curto prazo, temos a configuração do cenário de volatilidade com a elevação dos preços.
Na medida em que a possibilidade de ganhos especulativos aumenta nessas condições, um componente adicional às incertezas citadas acima passa pelo aumento das transações dessa natureza nos mercados futuros, e seus impactos sobre os preços à vista.
O Brasil é o quinto maior produtor e exportador mundial de algodão, respondendo por cerca de 6% do total de 25,4 milhões de toneladas estimadas para 2010/11.
Como o cenário de preços externos favoráveis aumentou a expectativa de exportação pelo Brasil (em 60 mil toneladas), o país terá de importar uma parte daquilo que necessita para seu consumo.
O resultado é a elevação de preços e da volatilidade também no mercado interno.
O algodão em caroço comercializado no atacado subiu 30,9% em setembro (de acordo com os dados do índice de Preços no Atacado da FGV), após ter ficado praticamente estável em agosto.
Para o período 2011/12, espera-se aumento na oferta dos grandes países produtores, principalmente dos EUA, em resposta aos preços verificados atualmente.
Até lá, porém, a integração do nosso mercado interno ao mundial resultará em um cenário de preços elevados e volatilidade.


PAULO PICCHETTI, 48, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV (Fundação Getulio Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV).


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