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Commodities entram em nova bolha
Juro zero em países desenvolvidos, dólar fraco e excesso de dinheiro levam a negócios recordes no mercado futuro
Além de milho, trigo
e soja, negócios com petróleo, metais e metais preciosos têm forte aquecimento
MAURO ZAFALON
DE SÃO PAULO
O mundo está a caminho
da segunda bolha das commodities. Nunca se negociou
tanto no mercado futuro e
nunca entrou tanto dinheiro
novo nesse setor. É a volta da
financeirização do setor.
Juros próximos de zero nos
países desenvolvidos, dólar
fraco e excesso de dinheiro
em busca de bons investimentos estão inflando as negociações com commodities.
Os dados da Chicago
Board Of Trade, principal
Bolsa de negociações de
grãos do mundo, são impressionantes. Negócios com metais, metais preciosos e petróleo também indicam forte
aquecimento.
Os contratos de compra de
soja bateram o recorde de 123
milhões de toneladas em outubro em Chicago, superando o pico do período pré-crise
de 2008, quando o recorde tinha sido de 119 milhões de
toneladas.
As negociações com milho
chegaram a 309 milhões de
toneladas e as com trigo, a 91
milhões no mês passado. No
pico de 2008, os contratos em
aberto no mercado futuro de
Chicago eram de 297 milhões
de toneladas para o milho e
de 83 milhões para o trigo.
"Estamos entrando em
uma nova bolha e a atitude
do Fed, de injetar mais dinheiro no mercado, vai inflar
ainda mais as commodities",
diz Fernando Muraro Junior,
da AgRural, de Curitiba.
O Fed (banco central dos
Estados Unidos) anunciou
na quarta-feira a compra de
US$ 600 bilhões em títulos
do Tesouro americano.
O problema é que já há excesso de capital girando pelo
mundo e esse dinheiro perdeu o contato com a economia real, diz Muraro.
O excesso de negociações
no mercado futuro de commodities faz com que os fundamentos da economia (produção, demanda e estoques)
já não influenciem mais. Segundo ele, "há uma perda de
referência na economia".
BOA E RUIM
A alta de preços é boa para
os produtores de commodities, tanto agrícolas como
metais e petróleo, mas ruim
para os consumidores, que
vão sentir no bolso essa elevação de preços.
Os agricultores brasileiros
deverão ter renda recorde
neste ano, conforme estimativas da AgRural. O mesmo
deve ocorrer nos Estados
Unidos, onde os dados do
Usda (Departamento de Agricultura do país) já apontam
para renda líquida de US$ 77
bilhões neste ano.
Se for mantida a alta das
commodities, a renda dos
norte-americanos no setor
agropecuário deverá superar
o recorde de US$ 80 bilhões
de 2008, exatamente o ano
da crise mundial.
Para Muraro, a perda de
relação dos preços das commodities com a realidade é
evidente. O apetite chinês,
embora grande, não justifica
valores tão elevados.
O reflexo dessa alta no
mercado futuro -onde há intenções de negócios- é de
elevar também os preços no
mercado físico, onde efetivamente ocorrem os negócios.
Essa transferência de preços
indica que "a inflação dos
alimentos já está tocando a
campainha", diz Muraro.
A elevação de preços ocorre mesmo com a maior oferta
de produtos neste ano. À exceção de alguns produtos,
como trigo, a safra mundial
de grãos foi boa e as perspectivas são de manutenção de
produção no próximo ano.
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