São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011 |
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ANÁLISE Quem ganha e quem perde com a informalidade da indústria de leite MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI ESPECIAL PARA A FOLHA Produzir leite é tão antigo quanto a história do homem. E uma vaquinha no fundo do quintal é ainda mais comum do que muitos possam supor. Persiste, entre boa parte da população, a falsa ideia de que, se o leite veio direto da roça, é forte, é puro e é bom. O Brasil produz cerca de 29 bilhões de litros de leite por ano, incluindo os produtos derivados. A estimativa é de que cerca de 45% venha de produção informal, aquela sem inspeção sanitária e que não recolhe impostos. Ainda é significativo o número de consumidores que compram esses produtos sem inspeção. É sabido que o leite não pasteurizado pode estar contaminado e é um dos maiores responsáveis por distúrbios gastrointestinais, além de transmissor da brucelose e da tuberculose. A informalidade ocorre, principalmente, devido aos maiores ganhos. Mas traz prejuízos para o consumidor. Além disso, o beneficiamento de produtos derivados do leite em estabelecimentos fiscalizados é extremamente concentrado. São priorizadas as bacias leiteiras que proporcionam boa relação entre volume de leite disponível e logística de coleta. O custo do frete, pago pelo produtor, pode tornar inviável a entrega. A produção leiteira está presente em praticamente todos os municípios do País, mas nem todos são atendidos por processadoras. O leite ali produzido não encontra outro destino senão o mercado informal, de leite em garrafas pet e derivados, como queijos, doces, coalhada. A informalidade promove ainda uma concorrência desleal. Na atividade inspecionada, produtores e estabelecimentos comerciais recolhem taxas e impostos. Quanto menor a arrecadação, maior a carga tributária que incide sobre os que trabalham dentro da lei. A maioria dos pecuaristas leiteiros é de pequeno porte, com pouca produção, e depende de organização para comercializar sua produção. Uma alternativa é associar-se a uma das cooperativas existentes. Estas respondem por cerca de 50% do leite fiscalizado produzido no Brasil. Trabalhos de conscientização do produtor informal e da população e fiscalização mais rígida poderão se traduzir, no futuro, em benefícios para a saúde pública. O resultado será a ampliação da atividade produtiva, nos mais elevados padrões de exigência dos mercados consumidores. A partir de então o Brasil poderá ainda ser um grande exportador de lácteos, com mais empregos e renda no campo. MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI é médico veterinário, doutor e supervisor do Sistema de Leite da Embrapa Pecuária Sudeste Texto Anterior: Infraestrutura ruim é entrave à indústria leiteira Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: Mentirinhas da revolução Índice | Comunicar Erros |
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