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ANÁLISE
Tecnologia é mais eficiente, e energia tem custo menor
ILDO SAUER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A perspectiva de exaustão
definitiva do petróleo convencional, com a tendência a
manter preços elevados, próximos dos custos da alternativa, e a preocupação com as
emissões de gases poluentes
em âmbito local (qualidade
do ar) e global (efeito estufa)
abrem possibilidades concretas para o veículo elétrico.
Em termos de eficiência da
cadeia de conversão energética, o veículo elétrico possui
grande vantagem quando
são computados os rendimentos nos processos.
Os motores a combustão
interna têm rendimento próximo a 40% quando operados no ponto ótimo.
Porém, na operação real
do veículo em várias marchas, o desempenho cai
substancialmente, para algo
próximo de 25%.
Os veículos elétricos têm
rendimento superior a 90%
no motor e a 80% nas baterias, resultando em rendimento global superior a 72%,
permitindo ainda a recuperação da energia de frenagem.
Assim, se o combustível
utilizado no veículo fosse
convertido em eletricidade
em uma usina, com rendimento de 55% e perdas de
10% na transmissão até o
posto de carregamento, o
rendimento da cadeia global
seria superior a 35%.
Acima de tudo, porém, em
países como o Brasil, a eletricidade pode ser gerada por
fontes renováveis como a hidráulica, a eólica e mesmo a
solar fotovoltaica.
Em termos de custo para o
consumidor, a opção elétrica
tende a ser vantajosa, mesmo
que o país tenha hoje uma
das tarifas mais caras do
mundo.
Um litro de gasolina contém 12 kWh, que, com rendimento de 25%, produzem
cerca de 3 kWh mecânicos,
ao custo de R$ 2,50.
Um kWh elétrico custa
aproximadamente R$ 0,45 e,
com rendimento de 72%, os
mesmos 3 kWh mecânicos
custariam cerca de R$ 1,90. A questão então passa a
ser a estrutura que garanta
confiabilidade e durabilidade das baterias, agilidade para carregamento ou troca e
sua reciclagem.
Soluções podem ser visualizadas: postos de serviço de
trocas de baterias padronizadas, garantidas pelos fabricantes dos carros, a exemplo
do que acontece com botijões
de gás de cozinha.
Candidatos a prestadores
do serviço poderiam ser os
postos de combustível, que
ampliariam seu escopo, livrando-se da ameaça da mudança de paradigma.
Tanto para a produção dos
veículos quanto para a rede
de serviços, a questão da escala é essencial, e, para atingi-la, a nova cadeia precisa
tomar o lugar da indústria estruturada em escala global
há mais de um século.
Mecanismos regulando a
qualidade do ar e incentivos
para redução de emissão de
poluentes podem contribuir
para acelerar o processo e
constituir o pontapé inicial
para o ganho de escala.
ILDO SAUER é professor titular do
Instituto de Eletrotécnica e Energia e
coordena o curso de Pós-Graduação em
Energia da USP.
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