São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2011

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Governo teme efeito de greves na inflação

Equipe da presidente Dilma receia que paralisações levem a correções que indexem salários e turbinem preços

Regra do próprio Planalto para o salário mínimo, porém, se baseia em índice de inflação passada

NATUZA NERY
RENATO MACHADO

DE BRASÍLIA

Além dos prejuízos causados pelas paralisações, a equipe de Dilma Rousseff teme que as greves provoquem um fenômeno perigoso para a economia: reajustes automáticos de salários que pressionam a inflação futura.
As greves em áreas estratégicas, como a bancária, acionaram um alerta no Planalto. Os sindicatos cobram aumentos salariais automáticos que reponham perdas passadas.
Não por acaso, as categorias paradas pedem ganhos acima da inflação acumulada desde o reajuste anterior. O fenômeno da indexação nada mais é do que a correção de salários baseada em índices passados. A conta é amarga para um cenário de alta nos preços.
A preocupação do governo aumentou ontem após os funcionários dos Correios rejeitarem um acordo salarial, negociado entre os sindicatos e a direção da estatal. A recusa acabou prolongando uma paralisação que fora dada como encerrada pelo Planalto. Funcionários da Caixa Econômica Federal, do BB e técnicos da área de educação também estão parados.
Categoria com forte poder de negociação, os bancários, em greve desde a semana passada, reivindicam um reajuste salarial de 12,8%, o que, se concedido, representará um aumento real (acima da inflação) de 5%.
A avaliação é que reposição da inflação ou reajuste acima dela pressiona preços futuros em um momento de dúvidas sobre a dinâmica da economia. Apesar das avaliações do Banco Central, o mercado ainda duvida da capacidade de o governo manter a inflação sob controle. Num cenário de queda dos juros já sinalizada pelo BC, parte do sistema financeiro estima que a inflação poderá ficar acima dos 6,5%, teto da meta fixada pelo governo.
A crise internacional também joga inúmeras interrogações sobre a saúde da economia brasileira no ano que vem. Dilma já informou que 2012 será de reajustes moderados, um recado antecipado, com função de antídoto, para tentar conter o ânimo das reivindicações. Nos bastidores, o governo prevê dificuldades e uma potencial onda de greves no funcionalismo público, tradicional base eleitoral do PT.
A presidente Dilma orientou sua equipe a negociar com os grevistas o fim das paralisações, mas sem colocar em risco o compromisso fiscal nem estimular as engrenagens do que sua equipe classifica como "indexação automática" nos salários. Apesar dos temores, o próprio governo contribui para estimular a indexação.
Fez isso quando negociou as atuais regras de aumento do salário mínimo: variação do INPC dos 12 meses anteriores mais o crescimento real do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes. A conta deve resultar num reajuste próximo de 14% em janeiro próximo.


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