São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2011

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Banqueiro bom é contra bandido no mercado, diz BC

Diretor de fiscalização do Banco Central defende medidas que apertaram fiscalização sobre o sistema financeiro

Agência Pixel
Anthero de Moraes, diretor de fiscalização do BC, para quem ações de início criticadas depois se tornam bem-vindas

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

O Banco Central apertou a fiscalização ao sistema financeiro, principalmente após a descoberta do rombo no PanAmericano no ano passado.
Segundo o diretor de fiscalização do BC, Anthero de Moraes, o maior rigor incomoda em um primeiro momento. Mas acaba sendo bem-vindo pelos bancos porque previne a ocorrência de problemas que prejudicam todos:
"Se existe uma coisa de que banqueiro bom não gosta é de banqueiro ruim, é de bandido nessa área", disse ele em entrevista à Folha.

 


Folha - O Banco Central tem apertado a fiscalização. O que há de novo?
Anthero de Moraes -
Na semana passada, o Conselho Monetário Nacional aprovou uma resolução que consolida e amplia as medidas prudenciais que o Banco Central pode determinar para a instituição financeira quando detectar alguma situação, como exposição a risco acima da capacidade de gestão e controle da instituição financeira. A gente está permanentemente analisando a instituição financeira, considerando os riscos a que ela está exposta em função dos seus negócios, procurando verificar perspectivas da sua viabilidade futura.

O sr. pode dar exemplos dessas medidas?
A resolução cobre, por exemplo, casos de perspectiva de deterioração econômico-financeira. Ou seja, você não precisa estar com a deterioração presente para ter alguma ação do Banco Central. Pode haver casos em que uma instituição trabalha com um único produto e estamos vendo que é um mercado que está se exaurindo ou se tornando extremamente concorrido e, portanto, com rentabilidade menor. Isso pode acender uma luz amarela aqui no Banco Central de que aquelas instituições que trabalham com aquele único produto podem ter problemas.
O Banco Central pode determinar, por exemplo, que ela refaça o plano de negócios dela e comprove que tem um plano que indica sustentabilidade do negócio.

Como as instituições têm reagido a essa fiscalização mais rigorosa?
O supervisor é um chato por princípio. A gente procura ser muito razoável. Não se chega lá chutando a porta do cara. Mas temos intensificado a parte de supervisão, a presença dentro da instituição financeira, essa postura mais cética em relação ao que dizem ao que trazem. A gente tem sido mais intrusivo.
Talvez num primeiro momento pode incomodar. Mas como a gente tem instituições financeiras robustas, sólidas, no geral, os bons gestores nessa área gostam de um sistema bem supervisionado e bem regulado. Se existe uma coisa de que banqueiro bom não gosta é de banqueiro ruim, é de bandido nessa área. Porque o sistema financeiro é uma coisa muito imbricada, dificilmente você tem uma ação em cima de uma instituição, por mais que ela seja um caso isolado, que não tenha alguma repercussão no sistema.
Se a gente pegar, por exemplo, o caso do PanAmericano, por mais que tenha sido um caso isolado, de fraude, isso acaba trazendo algum ruído e algum dano a instituições. Não que se configure um risco sistêmico do ponto de vista de arrastar mais instituições. Mas o sistema bancário vive de fidúcia, se fundamenta na confiança. Então qualquer situação dessa de desvios de conduta, de má gestão é ruim para o sistema.

A atuação mais rígida evitou a repetição de casos como o do PanAmericano ou de magnitude menor?
Sim, tivemos algumas aquisições de bancos. Tivemos a intervenção em um banco e em algumas entidades não bancárias. Nossa atuação não é só sobre a instituição financeira. Temos cobrado de conselhos de administração, de comitês de auditoria, de auditores externos que eles cumpram a função de fiscalizar, de determinar correções de rumo.


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