São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2011

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Jobs sempre viveu como 'no último dia'

De gênio difícil e perfeccionista, o criador da Apple explicava sua inquietude com a atribulada história pessoal

Filho adotivo e sem diploma universitário, Steve Jobs afirmava que até casamento seguiu vida pouco linear

Mark Lennihan/Associated Press
HOMENAGEM: Fãs fotografam loja da Apple na 5ª Avenida (NY)

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON
PAULA LEITE
EDITORA-ASSISTENTE DE MERCADO

Steve Jobs havia trocado telefones com a economista loira minutos antes, em uma palestra na Universidade Stanford, quando teve uma epifania ao deixar o local.
"Se fosse minha última noite na Terra, eu preferiria passá-la em uma reunião de negócios ou em um encontro com essa mulher?", disse, em entrevista ao autor de "Steve Jobs: The Brilliant Mind Behind Apple". O episódio de 1990 é sobre sua mulher, Laurene Powell. No ano seguinte, os dois se casariam em uma cerimônia budista e teriam um filho, Reed. Quatro anos depois viriam Erin e, em 1998, Eve.
Mas é também uma síntese de como Jobs funcionava: todos os dias eram o último. A inquietude é resultado de uma vida, como ele gostava de definir, pouco linear. Jobs é o filho adotivo de um casal californiano. Quando nasceu, em 24 de fevereiro de 1955, Joanne Schieble e Abdulfattah Jandali não eram casados e ainda estudavam.
"Ela achava que eu tinha de ser adotado por um casal com formação universitária", contou Jobs em seu agora famoso discurso de 2005 aos formandos em Stanford. Mas não foi assim e o bebê acabou com Paul e Clara Jobs. O pai era um metalúrgico que não tinha terminado o colegial. Jobs contou que ele o ensinou a usar ferramentas e rudimentos da eletrônica.
Steve não era programador nem engenheiro. Conheceu o "nerd" Steve Wozniak no colegial em Cupertino, cidade que viria a sediar a Apple.
Jobs entrou no Reed College, em Portland, Oregon, aos 17 anos. Sua vida acadêmica oficial não durou seis meses. Por um ano e meio, foi ouvinte das aulas que lhe interessavam; dormiu no chão do quarto de amigos; e comeu num retiro Hare Krishna para não gastar.
Guardou a lembrança das aulas de caligrafia, as quais dizia terem sido essenciais em seu apreço pelo design. De volta à Califórnia, decidiu fazer uma viagem espiritual à Índia. Experimentou LSD. Trabalhou na Atari. Seria com Wozniak, em 1976, que Jobs fundaria a Apple. Os dois venderam uma calculadora HP e uma Kombi para levantar a verba e produzir o Apple I na garagem.
A reputação "áspera" veio das histórias sobre Jobs humilhando funcionários ou estacionando na vaga de deficientes da Apple. Parte da imagem de difícil vem também da delicada relação com a filha mais velha, Lisa, nascida em 1978. Jobs terminou o namoro com a mãe dela, Chrisann Brennan, e só assumiu a menina no meio dos anos 1980.
Em 1985, um ano após criar o Macintosh, saiu após desentender-se com o presidente da empresa, John Sculley, que ele contratara. Nos 12 anos fora da Apple, Jobs fundou a NeXT. Também comprou uma divisão da Lucasfilm que virou a Pixar. Mas ele voltaria à Apple em 1997. Nos anos seguintes viriam o iPod, o iPhone, o iPad.
Viria também o câncer no pâncreas, diagnosticado em 2004 como "raro". Em Stanford, falou sobre ser desenganado e festejou a melhora. Voltou a piorar. Repetiria que viver o "último dia" tantas vezes foi o melhor que fez.


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