São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Crescimento e melhora nos gastos são chave para avanço

REINALDO GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há pouco mais de um século, o salário mínimo foi concebido como forma de reduzir a exploração da mão de obra de baixa qualificação.
A concepção evoluiu no sentido de ter como referência a garantia de um certo padrão de vida ao trabalhador.
No Brasil, o salário mínimo foi instituído por Getulio Vargas em 1936. Na Constituição de 1988, é definido como o valor capaz de atender necessidades vitais básicas do trabalhador e da família.
Nesses termos, segundo cálculos do Dieese, o mínimo deveria ser de R$ 2.223 em janeiro de 2011 -quase quatro vezes o atual, de R$ 540.
Na América Latina, a política de elevação do salário mínimo real tem sido parte essencial da política de desconcentração da renda derivada do trabalho e da política de redução da pobreza.
Influenciados pelo Banco Mundial, a quase totalidade, se não a totalidade, dos países sul-americanos -inclusive o Brasil- tem promovido melhoras na distribuição da renda e combate à pobreza via elevação do salário mínimo, programas assistencialistas e reajustes nos benefícios da previdência pública. Isso ao mesmo tempo em que direitos universais (saúde, educação, saneamento e segurança) têm retrocessos ou ganhos marginais.
Com raras exceções, essas políticas limitam-se a alterar a distribuição da renda na classe trabalhadora (salários, aposentadorias e benefícios) sem alterações substantivas na distribuição funcional da renda, que inclui, além do salário e das transferências, as rendas do capital (lucro, juro e aluguel).
Ademais, salário mínimo e transferências não têm impacto relevante na distribuição da riqueza (imóveis, aplicações financeiras, ações).
Quanto às perspectivas de evolução do salário mínimo, as incertezas críticas são o crescimento econômico e as contas públicas, sendo que a última é muito influenciada pelo crescimento da renda.
Entretanto, o crescimento econômico na América Latina depende, em grande medida, da evolução da economia mundial.
A região depende do comportamento dos preços das commodities no mercado mundial.
Vulnerabilidade externa estrutural também ocorre em países que têm elevado passivo externo, crescente deficit de balanço de pagamentos e estratégias de crescimento assentadas na desindustrialização e na reprimarização das exportações (por exemplo, o Brasil).

REINALDO GONÇALVES é professor titular de economia na UFRJ.


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