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Restrição muda composição do Chanel nº 5
Entidade limita uso de ingredientes em perfumes para proteger consumidor
REBECCA JOHNSON
DO "FINANCIAL TIMES"
A fragrância é pessoal; cria
identidade e produz recordações. Mas e se, um dia, a fragrância à qual você tiver se
apegado -ou aquela que
evoque um momento significativo de seu passado- mudar subitamente?
Não é uma questão teórica. A cada ano, mais ingredientes e o volume em que
podem ser usados pelos perfumistas ficam sujeitos a restrições impostas pela Ifra
(Associação Internacional de
Fragrâncias), a organização
setorial do setor de perfumes.
Os regulamentos da Ifra
para 2008, por exemplo, limitam ingredientes essenciais a muitas fragrâncias,
por reclassificá-los como
alergênicos.
O musgo de carvalho, usado no Mitsouko, da Guerlain,
entre outros, agora tem seu
uso restrito; o mesmo se aplica ao jasmim, ingrediente de
fragrâncias como o Chanel nº
5, e ao ylang ylang.
A Ifra foi fundada em 1973
pelo setor de fragrâncias a
fim de garantir a segurança
dos materiais utilizados pelos fabricantes.
Mas por que a fabricação
de perfumes requer fiscalização tão estreita? Jean-Pierre
Houri, presidente da Ifra, explica o problema:
"A saúde dos consumidores está se tornando mais importante. Não fazemos [a regulamentação] pelo prazer
de impedir nossos criadores
[de produzirem suas fragrâncias]; o fazemos porque desejamos ser responsáveis".
CRÍTICAS
Para alguns, essas limitações são supérfluas e parecem ter sido adotadas sem
causa plausível, como no caso de Tania Sanchez, coautora de guia sobre perfumes.
"[A Ifra] vem restringindo
muitas coisas usadas há décadas em perfumes e que
nunca causaram danos perceptíveis às pessoas", diz.
"O Mitsouko, da Guerlain,
e o Joy, da Jean Patou, dois
clássicos que nosso guia define como obras-primas, certamente foram reformulados
para seguir as recomendações da Ifra", afirma.
"Os regulamentos quanto
aos alergênicos se tornaram
uma maldição."
Os "artistas" saem perdendo e fragrâncias famosas podem sair do mercado.
Não vai demorar, diz o perfumista e especialista em fragrâncias Roja Dove, "para
que grandes criações deixem
de existir em sua forma original porque a lei não o permitirá. É como se um artista fosse proibido de usar o tom carmesim em seus quadros e por
isso instruído a mudá-los".
ALMA DA ARTE
Christopher Sheldrake, diretor de desenvolvimento de
fragrâncias da Chanel, está
entre os que temem que as
decisões da Ifra estejam mudando a alma de sua arte.
"É como dizer que comida
grelhada faz mal", afirma.
"Quando você considera que
ela existe há milhões de anos
e todos já a comeram, é difícil
não imaginar que o perigo
talvez não seja tão grave."
A Chanel reformulou algumas de suas fragrâncias, enquanto procura substitutos
para ingredientes que já não
podem ser usados. "A regulamentação cria muito trabalho para que consigamos
manter a qualidade de nossos produtos existentes."
Talvez o admirável mundo
novo das fragrâncias venha a
propiciar benefícios.
"Eu procuro ser sempre
otimista", diz Dove. "Estão
surgindo criações que serão
o que são porque é assim que
os perfumistas trabalham
com o agora."
Ou seja, quando um ingrediente é proibido, isso força
novos saltos de criatividade.
Haverá um "renascimento"
para o setor de perfumaria
quer ele goste, quer não.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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