São Paulo, domingo, 10 de abril de 2011

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Passagem para a China

Mineradora investe US$ 7,3 bilhões em ferrovia e porto para duplicar capacidade de transporte de minério de ferro com vista ao mercado asiático

Fotos Rafael Andrade/Folhapress
Píer em construção no porto de Ponta da Madeira (MA), exclusivo da Vale

PEDRO SOARES
DO RIO

Em 2008, a Vale se viu num dilema: ao mesmo tempo em que batia recordes de exportação para a China e passava pelo seu melhor momento na história, a mineradora corria o risco de perder a oportunidade de suprir o mercado mais dinâmico do mundo para o minério de ferro em razão do custo do frete.
A mineradora decidiu, então, investir US$ 7,3 bilhões (R$ 11,7 bilhões) no maior projeto de logística em curso na América Latina.
Distante da China e com receio da concorrência das australiana BHP e da anglo-australiana Rio Tinto -cujas minas estão mais próximas do país asiático-, a Vale apostou na duplicação da capacidade de transporte do seu sistema norte de produção de minério, que consiste na mina e na ferrovia de Carajás (PA) e no porto exclusivo de Ponta da Madeira (MA).
Só na duplicação da ferrovia, cuja capacidade de transporte já está estrangulada, serão gastos US$ 4,7 bilhões. A ampliação do porto consumirá mais US$ 2,6 bilhões até 2014.
Ambos os empreendimentos terão capacidade de escoamento de minério de ferro ampliada de 115 milhões de toneladas/ano para 230 milhões de toneladas/ano em 2014.
Dois anos antes, em 2012, entra em operação a primeira fase do projeto, que já vai assegurar o escoamento da produção de 150 milhões de toneladas/ano. Tal volume já estará garantido só com a duplicação de alguns trechos da estrada de ferro (os mais críticos, que somam menos de 100 km) e o início da movimentação de cargas num dos dois braços de atracação de navios do novo píer em construção de Ponta da Madeira.
O novo píer terá calado (profundidade) de 25 metros -o maior do país e um dos mais profundos do mundo. Estará apto a receber os maiores navios em construção atualmente, encomendados pela própria Vale para fazer a rota direta para a China.

AGRESSIVIDADE
"A BHP e a Rio Tinto têm uma vantagem competitiva importante por estar mais perto da China. Tivemos de ser agressivos em logística para compensar a maior distância e o custo mais alto do frete", disse Luiz Fernando Landeiro Júnior, diretor de Logística da Vale responsável pela ferrovia.
No porto, as obras do novo píer estão pela metade. Já foi construído 1,7 km de ponte que avança mar adentro, mas falta fazer os dois berços de atracação.
Tamanha extensão da ponte é necessária por conta da oscilação média de seis metros da maré na baía de São Marcos, na ilha de São Luís, uma das maiores do mundo.
Apesar desse problema, o canal natural (que chega a ter 50 metros de profundidade) e o fato de o mar ser abrigado no local justificam os investimentos no porto.
Com a ampliação, Ponta da Madeira será o porto com maior volume de carga do país já em 2012, superando Santos e outro porto exclusivo da Vale, Tubarão (ES).

TAMANHO
O gigantismo do projeto impressiona: só na área do porto, haverá 230 km de via férrea para movimentar os trens carregados de minério -hoje, já existem 100 km no terminal ferroviário.
A duplicação da ferrovia servirá ainda para escoar a produção de cobre e níquel de novas reservas da Vale na região de Carajás, como o projeto de Onça Puma, em fase final de implantação. Tais metais têm mais valor do que o minério, mas os volumes extraídos são bem menores -não superam 1 milhão ou 2 milhões de toneladas/ano.
Em 2014, porém, a Vale dará o seu maior salto: o início da produção da segunda mina de Carajás, conhecida como Serra Sul. De lá, serão extraídos até 80 milhões de toneladas/ano de minério.
"Ao duplicar o sistema norte, estamos fazendo em quatro anos o que a Vale levou 30 anos para construir", afirma Eduardo Bartolomeo, diretor-executivo de Logística da Vale.


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