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Crédito barato não consegue estimular economia dos EUA
Empresas captam bilhões a juros baixos, mas dinheiro não vai para novas fábricas ou geração de empregos
Existe preocupação com a possibilidade de que
a economia volte a cair em recessão ou cresça em ritmo lento demais
GRAHAM BOWLEY
DO "NEW YORK TIMES"
Enquanto muitos clientes
individuais e pequenas empresas vêm tendo seus pedidos de empréstimos rejeitados pelos bancos dos EUA, as grandes companhias vêm tomando grandes empréstimos
a custo muito baixo simplesmente porque podem.
Empresas como a Microsoft estão captando bilhões
de dólares por meio da emissão de títulos com taxas de
juros muito baixas, mas poucas delas vêm gastando o dinheiro em novas fábricas,
equipamentos ou na criação de empregos. Em lugar disso, retêm o dinheiro até que a economia melhore.
Esse desdobramento resulta em uma situação do tipo "o que vem primeiro: o
ovo ou a galinha?".
As empresas continuam a reter dinheiro, esperando que a economia melhore,
mas é improvável que a economia melhore se as empresas não gastarem.
A situação exemplifica as
limitações do poder das autoridades econômicas quanto a
estimular a economia.
JUROS
O Federal Reserve (Fed, o
banco central dos Estados
Unidos) manteve as taxas de
juros oficiais perto do zero
por quase dois anos, o que
permite que empresas coloquem títulos no mercado pagando juros pouco mais altos
do que isso -inferiores a 1%- em certos casos.
Mas a maioria das empresas não vem fazendo aquilo
que a política monetária
frouxa foi adotada para estimular que fizessem: investir e criar empregos.
Os juros baixos do Fed na
verdade prejudicaram muitos norte-americanos, especialmente os aposentados,
cuja renda, relacionada ao
rendimento de sua poupança, caiu substancialmente.
Grandes empresas como Johnson & Johnson, PepsiCo e IBM parecem estar entre os maiores beneficiários.
"Elas estão se beneficiando ao tomar empréstimos e
manter o dinheiro, mas isso
até o momento não beneficiou a economia", disse Dana Saporta, analista do Credit Suisse em Nova York.
COFRE
As grandes empresas norte-americanas vêm guardando mais dinheiro desde o colapso financeiro de 2008.
Há uma recente onda de
oferta de títulos por empresas de primeira linha. É o caso da Microsoft (uma das
companhias mais ricas do
mundo), que ofertou
US$ 4,75 bilhões em títulos no mês passado. Isso deixou mais dinheiro em seu cofre.
As grandes empresas agora detêm reservas de caixa
estimadas em US$ 1,6 trilhão, montante equivalente a
pouco mais de 6% de seus
ativos totais. No primeiro trimestre do ano, a proporção
era de 6,2% dos ativos -o nível mais alto desde 1964,
quando chegou a 6,4%.
Quando é que elas começarão a gastar esse dinheiro, especialmente em contratações de trabalhadores?
Isso é parte do que se tornou a maior questão nessa
longa recuperação sem criação de empregos: quando as
grandes empresas dos Estados Unidos vão se sentir confiantes a ponto de colocar em
ação suas reservas de caixa,
construindo fábricas e devolvendo ao trabalho alguns
dos 14,9 milhões de desempregados do país?
As empresas estão retendo
suas reservas protetoras, talvez preocupadas com a possibilidade de que a economia
volte a cair em recessão ou,
no mínimo, que registre crescimento letárgico demais para justificar investimento.
MOMENTO
As grandes empresas norte-americanas estarão fortes,
bem capitalizadas e prontas
para agir de maneira agressiva quando seus executivos
enfim decidirem que é hora de expandir os negócios.
Depois de subir acentuadamente em todos os trimestres desde a metade de 2008,
a relação entre as reservas de
caixa e os ativos das grandes
empresas caiu um pouco no segundo trimestre.
Ainda que o investimento
em fábricas e em outras instalações continue lento, as
empresas investiram algum
dinheiro em equipamentos
novos. Esses gastos cresceram em ritmo anualizado de
mais de 20% nos dois primeiros trimestres do ano.
Mas os economistas dizem
que o valor desses investimentos continua abaixo do pico atingido antes da crise.
Além disso, muitas das novas máquinas e computadores substituirão modelos
mais antigos, cuja desativação as empresas adiaram durante a recessão. As empresas estão apenas recuperando o tempo perdido, e não ocorre grande expansão.
"Elas podem estar usando esses investimentos para se tornar mais eficientes, cortando empregos", diz Michael Gapen, economista da Barclays Capital.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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