São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2010

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Crédito barato não consegue estimular economia dos EUA

Empresas captam bilhões a juros baixos, mas dinheiro não vai para novas fábricas ou geração de empregos

Existe preocupação com a possibilidade de que a economia volte a cair em recessão ou cresça em ritmo lento demais

GRAHAM BOWLEY
DO "NEW YORK TIMES"


Enquanto muitos clientes individuais e pequenas empresas vêm tendo seus pedidos de empréstimos rejeitados pelos bancos dos EUA, as grandes companhias vêm tomando grandes empréstimos a custo muito baixo simplesmente porque podem.
Empresas como a Microsoft estão captando bilhões de dólares por meio da emissão de títulos com taxas de juros muito baixas, mas poucas delas vêm gastando o dinheiro em novas fábricas, equipamentos ou na criação de empregos. Em lugar disso, retêm o dinheiro até que a economia melhore.
Esse desdobramento resulta em uma situação do tipo "o que vem primeiro: o ovo ou a galinha?".
As empresas continuam a reter dinheiro, esperando que a economia melhore, mas é improvável que a economia melhore se as empresas não gastarem. A situação exemplifica as limitações do poder das autoridades econômicas quanto a estimular a economia.

JUROS
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) manteve as taxas de juros oficiais perto do zero por quase dois anos, o que permite que empresas coloquem títulos no mercado pagando juros pouco mais altos do que isso -inferiores a 1%- em certos casos.
Mas a maioria das empresas não vem fazendo aquilo que a política monetária frouxa foi adotada para estimular que fizessem: investir e criar empregos.
Os juros baixos do Fed na verdade prejudicaram muitos norte-americanos, especialmente os aposentados, cuja renda, relacionada ao rendimento de sua poupança, caiu substancialmente.
Grandes empresas como Johnson & Johnson, PepsiCo e IBM parecem estar entre os maiores beneficiários.
"Elas estão se beneficiando ao tomar empréstimos e manter o dinheiro, mas isso até o momento não beneficiou a economia", disse Dana Saporta, analista do Credit Suisse em Nova York.

COFRE
As grandes empresas norte-americanas vêm guardando mais dinheiro desde o colapso financeiro de 2008.
Há uma recente onda de oferta de títulos por empresas de primeira linha. É o caso da Microsoft (uma das companhias mais ricas do mundo), que ofertou US$ 4,75 bilhões em títulos no mês passado. Isso deixou mais dinheiro em seu cofre.
As grandes empresas agora detêm reservas de caixa estimadas em US$ 1,6 trilhão, montante equivalente a pouco mais de 6% de seus ativos totais. No primeiro trimestre do ano, a proporção era de 6,2% dos ativos -o nível mais alto desde 1964, quando chegou a 6,4%.
Quando é que elas começarão a gastar esse dinheiro, especialmente em contratações de trabalhadores?
Isso é parte do que se tornou a maior questão nessa longa recuperação sem criação de empregos: quando as grandes empresas dos Estados Unidos vão se sentir confiantes a ponto de colocar em ação suas reservas de caixa, construindo fábricas e devolvendo ao trabalho alguns dos 14,9 milhões de desempregados do país?
As empresas estão retendo suas reservas protetoras, talvez preocupadas com a possibilidade de que a economia volte a cair em recessão ou, no mínimo, que registre crescimento letárgico demais para justificar investimento.

MOMENTO
As grandes empresas norte-americanas estarão fortes, bem capitalizadas e prontas para agir de maneira agressiva quando seus executivos enfim decidirem que é hora de expandir os negócios.
Depois de subir acentuadamente em todos os trimestres desde a metade de 2008, a relação entre as reservas de caixa e os ativos das grandes empresas caiu um pouco no segundo trimestre.
Ainda que o investimento em fábricas e em outras instalações continue lento, as empresas investiram algum dinheiro em equipamentos novos. Esses gastos cresceram em ritmo anualizado de mais de 20% nos dois primeiros trimestres do ano.
Mas os economistas dizem que o valor desses investimentos continua abaixo do pico atingido antes da crise.
Além disso, muitas das novas máquinas e computadores substituirão modelos mais antigos, cuja desativação as empresas adiaram durante a recessão. As empresas estão apenas recuperando o tempo perdido, e não ocorre grande expansão.
"Elas podem estar usando esses investimentos para se tornar mais eficientes, cortando empregos", diz Michael Gapen, economista da Barclays Capital.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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