São Paulo, quarta-feira, 10 de novembro de 2010

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Tensão inédita cerca a cúpula do G20

Explicação para isso é que, nas reuniões anteriores, havia a crise; agora, o medo é que haja nova recaída econômica

Como há países em expansão e outros com moderado declínio, há o temor de que possa ocorrer uma nova crise

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SEUL

Ao chegar hoje a Seul, o presidente Lula poderia usar com propriedade um de seus bordões recorrentes e dizer que nunca antes, na história de dois anos de cúpulas do G20, houve tanta expectativa e tensão em torno de um encontro dos líderes das 19 maiores economias do planeta mais a União Europeia.
Expectativa grande até havia na primeira cúpula, realizada em novembro de 2008, em Washington.
Estava-se no auge da crise econômica e o público e os mercados esperavam dos líderes respostas que a contivessem. As respostas vieram, e a crise foi de fato contida em parte graças a elas.
A diferença entre Washington e Seul é que, agora, há também tensão no ar, palpável mesmo entre os diplomatas -profissionais experimentados e frios- que negociam desde anteontem os termos do comunicado final.
A explicação para a tensão vem de um deles: nas quatro cúpulas anteriores, havia o incêndio da crise comendo solto e todos procuravam apagá-lo. Agora, se está no rescaldo do fogo e cada um trata de salvar os seus próprios móveis.
A metáfora é válida: o cenário em que se encontravam os países do G20 era similar durante a crise, ainda que o impacto dela tenha sido diferente de país para país. Mas o sentido era único: a economia ia para baixo.
Agora, não. Os próprios ministros de Economia e presidentes de bancos centrais do G20, reunidos no mês passado, também na Coreia, puseram no papel que "riscos de retrocesso permanecem e são diferentes de país para país e de região para região".

DIVERGÊNCIAS
Já a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o clubão das 30 maiores economias, informa que seu índice de indicadores principais para setembro "aponta para padrões divergentes de crescimento econômico entre as maiores economias".
Completa: "Há sinais de contínua expansão na Alemanha, no Japão, nos EUA e na Rússia, mas de moderado declínio no Canadá, na França, na Índia, na Itália e no Reino Unido". Para China e Brasil, os indicadores apontam para baixo, "sinalizando que o nível de produção industrial cairá bem abaixo de sua tendência de longo prazo nessas duas economias".
É natural que se torne difícil manter o grau de coordenação entre os países do G20 que foi a razão principal de seu sucesso.
Menos natural, no entanto, é o fato de que nenhuma outra cúpula foi precedida de tantos comentários públicos das mais altas autoridades dos principais países-membros, criando a tensão que chega às salas de negociação por meio da mídia.
Domado o incêndio, os EUA tratam de salvar os seus móveis (estimular o crescimento) pela via da impressão de moeda, o "quantitative easing2", lançado na antevéspera da cúpula.
A delegação brasileira, por exemplo, reconhece que é importante para o país e para toda a economia mundial que os EUA acelerem seu crescimento, ainda anêmico.
Mas acha que não deveria fazê-lo apenas pelo lado monetário, como vem acontecendo, e, sim, por um misto de ações monetárias e fiscais.

FOLHA.com
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