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Tensão inédita cerca a cúpula do G20
Explicação para isso é que, nas reuniões anteriores, havia a crise; agora, o medo é que haja nova recaída econômica
Como há países em expansão e outros com moderado declínio, há
o temor de que possa ocorrer uma nova crise
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A SEUL
Ao chegar hoje a Seul, o
presidente Lula poderia usar
com propriedade um de seus
bordões recorrentes e dizer
que nunca antes, na história
de dois anos de cúpulas do
G20, houve tanta expectativa
e tensão em torno de um encontro dos líderes das 19
maiores economias do planeta mais a União Europeia.
Expectativa grande até havia na primeira cúpula, realizada em novembro de 2008, em Washington.
Estava-se no auge da crise
econômica e o público e os
mercados esperavam dos líderes respostas que a contivessem. As respostas vieram,
e a crise foi de fato contida em parte graças a elas.
A diferença entre Washington e Seul é que, agora,
há também tensão no ar, palpável mesmo entre os diplomatas -profissionais experimentados e frios- que negociam desde anteontem os termos do comunicado final.
A explicação para a tensão vem de um deles: nas quatro cúpulas anteriores, havia o
incêndio da crise comendo
solto e todos procuravam
apagá-lo. Agora, se está no
rescaldo do fogo e cada um
trata de salvar os seus próprios móveis.
A metáfora é válida: o cenário em que se encontravam os países do G20 era similar durante a crise, ainda que o impacto dela tenha sido diferente de país para
país. Mas o sentido era único: a economia ia para baixo.
Agora, não. Os próprios
ministros de Economia e presidentes de bancos centrais
do G20, reunidos no mês passado, também na Coreia, puseram no papel que "riscos
de retrocesso permanecem e
são diferentes de país para
país e de região para região".
DIVERGÊNCIAS
Já a OCDE (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o clubão das 30 maiores economias, informa que seu índice
de indicadores principais para setembro "aponta para padrões divergentes de crescimento econômico entre as maiores economias".
Completa: "Há sinais de
contínua expansão na Alemanha, no Japão, nos EUA e
na Rússia, mas de moderado
declínio no Canadá, na França, na Índia, na Itália e no
Reino Unido". Para China e
Brasil, os indicadores apontam para baixo, "sinalizando
que o nível de produção industrial cairá bem abaixo de
sua tendência de longo prazo nessas duas economias".
É natural que se torne difícil manter o grau de coordenação entre os países do G20
que foi a razão principal de seu sucesso.
Menos natural, no entanto, é o fato de que nenhuma
outra cúpula foi precedida de
tantos comentários públicos
das mais altas autoridades
dos principais países-membros, criando a tensão que
chega às salas de negociação por meio da mídia.
Domado o incêndio, os
EUA tratam de salvar os seus
móveis (estimular o crescimento) pela via da impressão
de moeda, o "quantitative easing2", lançado na antevéspera da cúpula.
A delegação brasileira, por
exemplo, reconhece que é
importante para o país e para
toda a economia mundial
que os EUA acelerem seu crescimento, ainda anêmico.
Mas acha que não deveria fazê-lo apenas pelo lado monetário, como vem acontecendo, e, sim, por um misto de ações monetárias e fiscais.
FOLHA.com
Leia a coluna de Clóvis Rossi
folha.com.br/pr827755
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