São Paulo, sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

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"Exportação de crescimento" é recorde

Importações subtraem 2,7 pontos percentuais da expansão do PIB brasileiro, nível nunca registrado antes

Se produção doméstica pudesse atender toda a demanda, PIB subiria; importações, porém, também têm benefícios


ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

O Brasil nunca exportou tanto crescimento econômico para os países que abastecem o mercado interno com importações como nos 12 meses encerrados em setembro.
No balanço, importações menos exportações subtraíram 2,7 pontos percentuais da expansão registrada pelo PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro nos quatro trimestres terminados em setembro passado -que foi de 7,5%.
Essa "contribuição negativa" do setor externo para o desempenho da economia é recorde pelo menos desde 1996 (ano-base de uma revisão feita na série histórica do IBGE). Em "economês", diz-se que uma parcela do PIB está vazando para o exterior.
Em português mais claro: o país poderia estar crescendo a ritmo mais forte caso a produção doméstica estivesse sendo capaz de atender a uma fatia maior da pujante demanda interna.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos em um país em um determinado período. O consumo das famílias, os gastos do governo, os investimentos e as exportações contribuem positivamente para o crescimento do PIB quando registram expansão.
Com as importações, ocorre o inverso, justamente por representarem o que deixou de ser produzido no país.
Mas isso está longe de significar que a recente invasão de importados esteja sendo prejudicial ao crescimento brasileiro. Pelo contrário.
As importações têm ajudado a satisfazer o consumo interno, que continua a crescer em ritmo forte. Com isso, ajudam a controlar a inflação.
Se o país não estivesse sendo capaz de complementar parte da oferta de bens e serviços com importações, a inflação -que atingiu em novembro o maior nível em quase seis anos- estaria ainda mais forte.
Segundo Fernando Montero, economista-chefe da corretora Convenção, isso significa que o Banco Central já teria elevado os juros básicos para patamar mais alto que os atuais 10,75%, o que resultaria em desaceleração.
"Estamos perdendo parte do crescimento com as importações. Mas, sem elas, o país provavelmente estaria crescendo mais lentamente."
Além de contribuírem para o controle da inflação, as importações são um importante canal pelo qual a economia do país absorve tecnologias mais avançadas desenvolvidas lá fora.
O debate em relação a esse tema atualmente no Brasil é: em que medida as importações estão retirando terreno da produção local, contribuindo para um processo de desindustrialização do país?

COMPETITIVIDADE
O chamado "custo Brasil" -impostos altos, infraestrutura deficiente, excesso de burocracia, entre outros fatores- diminuiu a competitividade da indústria brasileira.
Segundo Robert Wood, analista da consultoria Economist Intelligence Unit (EIU), barreiras às importações ainda relativamente altas no Brasil ajudavam a proteger a indústria nacional.
Mas, com a demanda doméstica forte, diz, "há maior pressão para que as empresas se tornem mais competitivas". Isso porque barreiras tarifárias ainda altas em alguns setores têm sido mais do que compensadas pelo real sobrevalorizado, que barateia as importações.
Segundo Montero, esse cenário de forte crescimento das importações pode piorar em 2010 caso o BC tenha de fazer um aperto monetário considerável para esfriar a economia e frear a inflação.
Juros mais altos poderão levar à apreciação ainda maior do real e aumentar o estímulo às importações.
"Isso poderia ser bastante prejudicial à indústria doméstica", diz Montero.
Segundo ele, esse cenário pode, no entanto, ser evitado caso o governo promova um ajuste fiscal que ajude a esfriar a demanda doméstica e diminua a necessidade de aperto monetário.


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