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Emergentes terão de "engolir" moeda forte, dizem bancos
Cúpula do FMI não chega a consenso e empurra o debate sobre taxas de câmbio para encontro do G20, em Seul, em novembro
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Banqueiros e investidores
mandaram um recado aos
países emergentes e desenvolvidos após a conclusão
aguada do encontro anual do
FMI (Fundo Monetário Internacional): acostumem-se ao
novo equilíbrio da economia
global, câmbio incluso.
"A mensagem aos emergentes é: acostumem-se com
suas moedas fortes. Estamos
em um mundo diferente" disse Philip Suttle, economista-chefe do IIF (Instituto de Finanças Internacionais).
"Os mercados veem isso,
se ajustam e colocam capital
nesses países. Quem tentar
resistir a isso vai fracassar."
Para o diretor-presidente
do fundo de investimentos
Pimco, o maior na gestão de
papeis emergentes, trata-se
de uma nova normalidade
que impõe desafios a todos.
"Isso aparece na migração
acelerada das dinâmicas de
crescimento e riqueza em direção aos emergentes", disse
Mohamed El-Erian em apresentação do Banco Mundial.
O egípcio disse estar "impressionado" com o Brasil.
AGENDA FROUXA
A reunião do FMI terminou com uma agenda frouxa,
em que a principal proposta é
o monitoramento do quanto
a política econômica de um
país prejudica a dos demais.
Mas o modelo e a data de
início não foram definidos.
O debate principal em
Washington -os desequilíbrios globais e o câmbio, que
opõe EUA (com desajustes
fiscais) e China (com moeda
subvalorizada)- ficou inconcluso, com uma vaga expectativa de definição deixada para a reunião do G20, em
novembro, em Seul.
Voz dissonante no IIF, o
presidente do Itaú, Roberto
Setubal, enfatizou que os
emergentes estão agindo no
câmbio para "se proteger".
Mas o brasileiro disse depois à Folha ver risco no fato
de cada pais tomar medidas
de forma independente. "A
otimização de cada uma das
partes não vai levar à otimização do mundo, vai levar a
uma confusão", disse.
Setubal afirmou que não
espera "nenhum desastre"
no câmbio e que a bola está
nas mãos do G20. Para o banqueiro, no entanto, o Brasil
terá de se acostumar com um
deficit em conta corrente de
até 5% do PIB (para 12 meses
até julho, foi de 2,2%).
"É administrável, mas
acho importante o setor público aumentar o nível de
poupança para acomodar a
compra de dólar e manter o
nível de reservas", afirmou.
Ele espera que o dólar varie
entre R$ 1,70 e R$ 1,80.
REGULAÇÃO EXCESSIVA
O IIF, que reúne mais de
400 grandes bancos, reclamou do que vê como excesso
de regulamentação imposto
às instituições após a crise, o
que, afirma, encarece o crédito e solapa a capacidade de
financiar a retomada global.
"Algumas regulamentações foram longe demais",
afirmou Josef Ackerman, diretor-presidente do grupo, citando o recente acordo de
Basileia 3, que fixa parâmetros de alavancagem e proteção para os bancos na tentativa de evitar nova bolha.
Os banqueiros criticaram a
tentativa de criar uma lista de
"instituições grandes demais
para falhar", que acabou fora
do acordo pelo temor de que
virasse uma lista negra na
mira dos governos.
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