São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010

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FOCO

Revelações incômodas e lobistas marcam filme sobre crise de 2008

Aposta para o Oscar e narrado por Matt Damon, "Inside Job" estreia em fevereiro no Brasil

Divulgação
Henry Paulson, ex-secretário do Tesouro, o atual, Timothy Geithner (dir.), e Ben Bernanke (Fed, centro) em ‘Inside Job’

LUCIANA COELHO
EM BOSTON

É difícil evitar o desconforto ao assistir a "Trabalho Interno" ("Inside Job"), brilhante documentário de Charles Ferguson sobre a megacrise econômica global detonada em 2008.
Não que seja monótono. Ferguson o editou de forma a manter igualmente vidrado o espectador hiperinformado ou alheio ao noticiário.
Mas seus 105 minutos são uma das análises mais completas e provocativas do colapso após a falência do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Como tal, trazem constrangimentos e revelações incômodos aos dois lados do espectro político.
O filme é crítico ao sistema financeiro, mas não espere algo como Michael Moore. O estilo está mais próximo da elegância de Errol Morris ("Sob a Névoa da Guerra").
Não há denúncia bombástica. O diretor liga os pontos com tanta destreza, entretanto, que é quase impossível não se surpreender com ao menos um dos aspectos expostos ali -sobre governo, bancos e universidades.
A bolha imobiliária e financeira estourou no meio do projeto. "Comecei a falar com [os economistas que previam a crise] Nouriel Roubini e Charles Morris sobre isso no fim de 2007", disse Ferguson à Folha.
"Mas foi o colapso do Lehman, da [seguradora] AIG e do [banco] Merrill Lynch que me fizeram decidir filmá-lo."
O matemático e cientista político, indicado ao Oscar com "No End in Sight" (de 2007, sobre a lambança do governo Bush no Iraque), levou a ideia à Sony Classics, que encampou. Ele começou a pesquisa e, de fevereiro a agosto de 2009, rodou o mundo para 75 entrevistas.

MOCINHO, VILÃO E OSCAR
Desdobram-se na tela para explicar o ocorrido gente como o ex-secretário do Tesouro Paul Volcker, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, o ex-governador de Nova York Eliot Spitzer e banqueiros, além de Roubini e Morris.
O momento cômico é reservado ao desastrado depoimento do lobista Scott Talbott e ao ex-diretor do BC dos EUA na Califórnia Fred Mishkin, que renunciou a dias do estouro; o mais perturbador, ao diretor da Columbia Business School, Glenn Hubbard.
As universidades e sua porta rotatória para as corporações, com professores em ambas as folhas de pagamento, são os vilões, ao lado de suspeitos usuais: o ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers e Richard Fuld, ex-presidente do Lehman.
Eles negaram entrevistas. As ausências, aliás, demarcam à risca o maniqueísmo confesso de Ferguson -também se recusaram Alan Greenspan, Henry Paulson, Timothy Geithner e os diretores das agências de risco e instituições financeiras.
A narração de Matt Damon, a trilha roqueira, a edição ágil e a dose de sexo e drogas no depoimento de cafetina que diz ter atendido "uns 10 mil" clientes de Wall Street dão ao filme cara pop.
As resenhas favoráveis e os US$ 3 milhões de bilheteria nos EUA em sete semanas (raros com documentários) o tornam aposta para o Oscar.
O diretor quer que seu próximo longa tenha um tema "menos sombrio", mas se diz frustrado com Obama por não regular o sistema. "Outra crise? Talvez não logo, mas quando esquecerem esta e o mercado de derivativos lançar um produto novo."
"Trabalho Interno" estreia no Brasil em 18 de fevereiro.


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