São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011

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MICHAEL SPENCE

Novo modelo de crescimento da Ásia


Juntas, a China e a Índia farão com que o PIB mundial pelo menos dobre nas próximas três décadas

COM A ÁSIA na liderança, a proporção da economia mundial que os mercados emergentes representam vem crescendo firmemente nas últimas décadas. Para os países asiáticos, e especialmente os gigantes regionais em ascensão, China e Índia, o crescimento sustentável já não é mais parte de um desafio de ordem mundial. Em lugar disso, se tornou uma questão de estratégia nacional para o crescimento. Isso representa uma reviravolta na estrutura mundial de incentivos, com respeito a obter sustentabilidade.
Ao longo das próximas décadas, quase todo o crescimento mundial em consumo de energia, urbanização, uso de automóveis, viagens aéreas e emissões de carbono acontecerá nas economias emergentes. Na metade do século, o número de pessoas que viverão com nível de renda equivalente ao dos atuais países avançados será de 4,5 bilhões (hoje, 1 bilhão). O PIB mundial, que é de cerca de US$ 60 trilhões, deve triplicar nos próximos 30 anos. Se as economias emergentes tentarem atingir níveis de renda semelhantes aos dos atuais países avançados, o impacto que isso terá sobre o ambiente será enorme, arriscado e provavelmente desastroso. Um ou diversos fatores de risco podem se desenvolver e causar a completa paralisação desse avanço. A segurança e o custo da energia, a qualidade da água e do ar, os ecossistemas em terra e nos mares, a segurança alimentar e muitos outros aspectos podem passar a sofrer ameaças.
No momento, quase todas as medidas de concentração de poder econômico mostram tendência de queda. Se isso continuar, o resultado seria um mundo no qual a contribuição de cada país em termos de pressão sobre os recursos naturais e o ambiente tornaria a sustentabilidade um grande desafio, já que poderia prevalecer de forma extrema o problema daqueles que tentam crescer sem exercitar sua responsabilidade ambiental, pegando "carona" no desenvolvimento alheio. Para uma mudança de rumo, seriam necessários acordos mundiais que afetariam o crescimento, bem como os sistemas que fiscalizariam o cumprimento desses pactos.
Mas a tendência quanto à concentração se reverterá mais ou menos dentro de uma década, devido ao tamanho e aos índices de crescimento da Índia e da China, que respondem por quase 40% da população mundial. Ainda que o PIB combinado desses países represente hoje fração pequena da produção mundial (cerca de 15%), essa proporção vem tendo alta acelerada.
Na metade do século, Índia e China responderão por 2,5 bilhões dos 3,5 bilhões de pessoas adicionais que estarão vivendo com renda semelhante à dos países avançados.
Sozinhas, farão com que o PIB mundial pelo menos dobre nas três próximas décadas, mesmo que sem nenhum crescimento em outras áreas. Para a Índia e a China separadamente, e certamente para os dois países como uma unidade, a sustentabilidade deixou de ser essencialmente uma questão mundial; representa um desafio interno em termos de crescimento no longo prazo.
Os padrões de crescimento e estratégias que venham a adotar, e as escolhas e renúncias que fizerem com relação a estilos de vida, urbanização, transportes, ambiente e eficiência energética, em larga medida determinarão se suas economias continuarão capazes de competir ao longo da demorada transição para um nível de renda avançado.
Existe crescente conscientização entre as autoridades, empresas e cidadãos chineses e indianos de que os percursos de crescimento históricos seguidos por seus predecessores simplesmente não funcionarão, porque não é possível fazer com que sua escala se desenvolva a ponto de sustentar a economia mundial com produção três vezes superior à atual. Como resultado, esses países terão de inventar novos padrões de crescimento, a fim de atingir níveis de desenvolvimento semelhantes aos das nações avançadas.
São economias grandes demais para que possam crescer de "carona", de modo que os incentivos referentes à sustentabilidade estão sendo incorporados em forma de prioridades nacionais. O modelo do passado não funcionará.
MICHAEL SPENCE, laureado com o Nobel de Economia, é professor de economia na escola Stern de administração de empresas, Universidade de Nova York, pesquisador visitante no Conselho de Relações Exteriores e pesquisador sênior na Hoover Institution, Universidade Stanford.

Este artigo foi distribuído pelo Project Syndicate.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


AMANHÃ EM MERCADO:
Maria Inês Dolci


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