São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2011

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cifras & letras

CRÍTICA MIGRAÇÃO

Livro defende que imigrante será mão de obra disputada

Ex-VP do Banco Mundial analisa efeitos da migração e propõe planejamento


NOSSAS POLÍTICAS MIGRATÓRIAS VÃO DEFINIR SE SEREMOS COSMOPOLITAS OU MENOS PRÓSPEROS

Erik S. Lesser - 2.jul.11/Associated Press
Protesto contra lei anti-imigração no Estado da Geórgia, EUA, onde hispânicos formam boa parte da mão de obra agrícola

NATÁLIA PAIVA
DE SÃO PAULO

A conta parece simples.
De um lado, o mundo rico cada vez mais velho (alta longevidade e baixa fertilidade) demandará cada vez mais mão de obra jovem. Do outro, emergentes -principalmente africanos- terão cada vez mais meios para migrar e ocupar postos de enfermeiros, cuidadores de idosos etc.
Em "Exceptional People", Ian Goldin, diretor da Martin School em Oxford e ex-vice-presidente do Banco Mundial, defende que a imigração é impopular porque há uma tendência a superestimar custos e a subestimar ganhos.
Os ganhos, defende ele, são dinamismo econômico e inovação via diversidade -sem os imigrantes, afirma, não haveria Vale do Silício (eles fundaram Google, Intel, PayPal e eBay, entre outras).
Coescrito por Geoffrey Cameron e Meera Balarajan, o livro condensa uma pilha de dados estatísticos e históricos. Numa narrativa leve, tenta deletar chauvinismos (se baseia em fatos históricos para desmontá-los) e aponta para um futuro em que haverá competição feroz por "trabalhadores móveis" -para essa conclusão, baseia-se em vários dados demográficos.
O fluxo livre de gente entre países geraria US$ 39 trilhões em 25 anos, segundo estudo do Banco Mundial citado no livro. Pessoas seriam tiradas de bolsões de pobreza e realocadas onde poderiam ser produtivas e consumir. Se migrassem para lugares com deficit de mão de obra, novas indústrias poderiam surgir.
Mas, para isso, os governos precisariam ter políticas migratórias. Como dividir o peso social dos imigrantes por todo um país ou região, reduzindo o impacto inicial sobre determinada comunidade.
Exemplo: imigrantes do norte da África deveriam ser distribuídos, de forma planejada, por toda a União Europeia, em vez de se concentrarem em Malta ou Lampedusa somente por causa da proximidade geográfica.
No que diz respeito ao Brasil, os autores citam como exemplo de política bem-sucedida a atração de decasséguis (trabalhadores brasileiros) para fábricas japonesas enquanto o Brasil vivia crise: pulou de cerca de 15 mil para 150 mil, entre 1989 e 1992.
A primeira terça parte do livro é dedicada a um amplo panorama da história das migrações: do "espalhamento" (entre 50 mil e 60 mil anos atrás) à "conexão" (após o desenvolvimento da agricultura e o sedentarismo), via trocas, comércio e conquistas.
O panorama segue pelas navegações de Zhang He, pelas viagens de Colombo, pelos fluxos para o novo mundo e pelo recrudescimento do chauvinismo no pós-guerra, via passaportes e fronteiras.
Mas a conta que parece simples não fecha -"ainda", segundo os autores.
Apesar de casos isolados de flexibilização de entrada de estrangeiros com alta qualificação no mundo rico, a crise também tem estimulado o oposto e a xenofobia -sensível na atual revisão do Tratado de Schengen (de livre circulação na União Europeia).
Para isso, Goldin e seus parceiros têm resposta: europeus (e americanos) reconhecerão o valor dos imigrantes quando precisarem que alguém empurre sua cadeira de rodas e não dispuserem de milhares de euros (ou dólares) para pagar a graduados.

EXCEPTIONAL PEOPLE
AUTORES Ian Goldin, Geoffrey Cameron e Meera Balarajan
EDITORA Princeton University
QUANTO US$ 35 (352 págs.)


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