São Paulo, sábado, 13 de novembro de 2010

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ENTREVISTA GLOBALIZAÇÃO

Professor discute como EUA perdem papel de país central

Para autor de "Globalização", sistema americano não é mais o modelo

DE SÃO PAULO

Pervez Ghauri é professor no King's College de Londres e especialista em comércio internacional. Seu livro "Globalização", escrito em colaboração com a jornalista Sarah Powell, resume a um ou dois parágrafos conceitos como "fordismo", G8 ou "micromultinacional".
Em meio a dicas para empresários que pretendem atuar fora de seus países ou casos curiosos envolvendo a má tradução de slogans publicitários, o livro esboça um panorama das relações entre empresas e governos no plano global.
Ghauri falou com a Folha por telefone, de sua residência em Londres.

 

Folha - O livro tem conselhos para fazer negócios numa situação de recessão. É tempo de aplicar esses conselhos? Pervez Ghauri - Sim. Se você vê sinais de recessão, tem de usar. Não acabou a recessão. Especialmente nos EUA e no Reino Unido; precisamos esperar uns cinco anos para ver se passou. No restante da Europa, exceto em países como Portugal, Espanha e Grécia, a economia vai bem. A economia alemã está melhor do que antes. Países como China e Brasil estão certamente fora da recessão. Os mercados emergentes estão melhores para receber investimentos.

Como o plano de US$ 600 bilhões dos EUA para estimular sua economia deve afetar o que alguns chamam de "guerra cambial" no mundo?
Os EUA têm vários problemas internos, precisam pôr a casa em ordem antes de querer exportar influência. Se continuarem imprimindo dinheiro, o dólar vai se desvalorizar mais; muitos países já estão mudando suas reservas de 80% ou 90% em dólar para 60% ou 70%.

Logo teremos um novo padrão monetário em substituição ao dólar?
Sim. O euro é o mais óbvio a curto prazo; dá para falar no yuan, em 20 ou 30 anos.

Ainda podemos falar em "americanização" como sinônimo de globalização, como o livro menciona brevemente?
A opinião geral sobre globalização era a de que foi um processo criado pelos EUA, enquanto outros sistemas, como aqueles criados pela União Soviética e pela China, não haviam funcionado. Os EUA exportaram agressivamente seu sistema econômico de livre mercado. Mas vemos hoje que essa ideia está desaparecendo. A globalização significava "aderir ao estilo moderno de vida", isto, é, ao "estilo americano". Mas isso não vai acontecer.

O livro tem uma página sobre a atividade chinesa na África. Trata-se de globalização ou um tipo de neocolonialismo?
Uma forma de vermos é que se trata de um continente esquecido há 20 ou 30 anos. Ninguém se importou com a fome ou a Aids. A China agora põe dinheiro lá; de um ponto de vista humanitário, isso é bom. A segunda perspectiva é a de que, conforme cresce a população [mundial], cresce a necessidade de matéria-prima, de commodities, e muitos países pensam em estender sua influência na África para obter acesso à terra e aos recursos. Neocolonialismo é uma palavra muito forte; trata-se de uma estratégia de influência a longo prazo.

Qual será o papel do Brasil na economia global nos próximos anos?
Países como Brasil, China e Índia estão assumindo um grande papel. Pelas estatísticas dos últimos três ou quatro anos, por exemplo em investimento externo e crescimento do PIB, vemos que esses países estão no topo, assumindo a dianteira do resto do mundo.

GLOBALIZAÇÃO

AUTORES Pervez Ghauri e Sarah Powell
TRADUÇÃO Rosemarie Ziegelmaier
EDITORA Publifolha
QUANTO R$ 19,90 (72 págs.)


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