São Paulo, sábado, 13 de novembro de 2010

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Após derrota interna, Obama também perde prestígio externo

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Barack Obama, nem terminou sua viagem à Ásia e já é visto como o grande perdedor, após ser crucificado no G20 pelas políticas econômicas americanas e ver naufragar o acordo de livre comércio com a Coreia do Sul.
Pouco depois da derrota nas eleições para o Congresso, quando a oposição retomou controle da Câmara dos Representantes, a situação interna se complica ainda mais para Obama com a queda de prestígio no exterior.
O racha entre os EUA e as demais potências do G20, especialmente tradicionais aliados como Reino Unido e Alemanha, culminou numa cúpula em Seul finalizada sem resultado de impacto.
A imprensa americana afirmou em uníssono que os fracassos na Ásia deixaram líderes mundiais questionando a autoridade dos EUA.
Foram notadas principalmente as críticas à decisão (autônoma) do Fed de injetar mais US$ 600 bilhões na economia americana e a reviravolta na posição da China, que de vilã manipuladora de moeda passou a dar sermões a Washington no tema.
"A confiança na liderança econômica dos EUA no mundo continua a decair", disse Stewart Patrick, ex-membro do Departamento de Estado, em análise no Council on Foreign Relations.
"Obama chegou a Seul logo depois que seu partido foi trucidado nas eleições e encontrou seus parceiros do G20 céticos quanto a sua capacidade de cumprir obrigações internacionais."
Em entrevista à Folha, Patrick afirmou que Obama "precisava dessa vitórias" depois do fracasso nas eleições legislativas. "Presidentes sempre vão atrás de sucesso no exterior quando são derrotados em casa."
Ele prevê repercussões internas, ao menos indiretamente. "A falha em convencer a China a valorizar o yuan vai levar à maior confrontação com os republicanos no Congresso no tema. E, quanto menos coordenação há entre grandes economias sobre como recuperar o crescimento, mais difícil deverá ficar a situação fiscal nos EUA e menos margem de manobra terá Obama com a oposição."
A grita contra a injeção de US$ 600 bilhões também contaminou o cenário interno. Alan Greenspan, ex-presidente do Fed, acusou o governo de "investir em políticas para enfraquecer o dólar" -a injeção equivale a impressão de moeda, o que provoca queda de valor.
O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, rebateu dizendo que "jamais tentaremos enfraquecer nossa moeda para ganhar vantagem competitiva".
Pesquisa da Bloomberg com investidores internacionais aponta que 69% deles creem que os EUA estão "deliberadamente mantendo o valor do dólar baixo em relação a outras moedas".


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