São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2011

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Fusão Sadia-Perdigão pode voltar atrás

Decisão será revertida se BRF descumprir exigências de venda de fábricas, diz conselheiro que negociou acordo

Para Ricardo Ruiz, agora começa período crítico; Cade promete acompanhar formação de novo concorrente

Alan Marques/Folhapress
O conselheiro do Cade Ricardo Ruiz, durante entrevista

LORENNA RODRIGUES
DE BRASÍLIA

A fusão Sadia-Perdigão ainda não está garantida.
Depois de uma das decisões mais complexas da história do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), o conselheiro Ricardo Ruiz, 45, diz que agora é que começa um período crítico: garantir que as exigências sejam cumpridas.
Ruiz é responsável pela negociação do acordo que possibilitou a aprovação do negócio pelo conselho.
Pelo acordo, a BRF (Brasil Foods, empresa resultante da fusão) terá de suspender a marca Perdigão de produtos como lasanha e pizza congelada de três a cinco anos e vender um pacote de ativos a um mesmo concorrente. Ruiz diz que olhará cada detalhe.
O Cade determinou que o pacote vendido represente capacidade de produzir 730 mil toneladas ao ano.
"Não aceitamos pacote diferente. Se não tiver 730 mil toneladas, a empresa terá problemas sérios; no limite, pode chegar ao desmonte da fusão", disse à Folha.
Economista, Ruiz é mineiro, mestre em ciência econômica pela Unicamp e doutor em economia pela New School for Social Research (EUA).

 

Folha - Agora que a fase crítica já passou, a concorrência no mercado de alimentos processados está garantida?
Ricardo Ruiz -
A segunda fase é tão crítica quanto a primeira. A solução concorrencial passa pela empresa entrante. O Cade tem que acompanhar se eles estão realmente entregando as 730 mil toneladas por ano e exatamente nos mercados problemáticos -14, como pizza congelada e salsicha.
A empresa tem que estar ciente de que eu olharei isso. Se me oferecerem -por exemplo- queijo ou macarrão, não me interessa. Entre a BRF e as outras existe um vácuo, nós tapamos o buraco com a vice-líder. Nossa aposta está na atuação dessa vice-líder, que terá escala e escopo. Há uma ousadia nessa decisão, é quase criar uma Perdigão.

A fusão não está garantida?
Não está garantida porque a implementação do TCD (Termo de Compromisso de Desempenho) é condição para a aprovação. Se não cumprirem, reveremos nossa posição.

O que vai acontecer em três, cinco anos, quando a Perdigão voltar?
Não sei. Vamos ver como a entrante vai atuar. A nossa solução é a criação da vice-líder, o que o Cade fez foi proporcionar condições para que ela surja, agora o Cade não vai montar a estratégia dessa empresa no mercado.

A empresa foi arrogante nas negociações?
Não consigo avaliar o que ocorreu antes [durante as negociações com Carlos Ragazzo, relator do processo], mas eles acharam que era possível não ter restrições, e eu fiquei muito surpreso.
A empresa tinha uma avaliação que eles mudaram a partir da apresentação da petição [em junho, em que a BRF se comprometia a vender ativos integrados] e com isso chegamos à conclusão desse TCD. Houve problemas, pessoas nervosas, coisas normais da negociação.

O sr. chegou a pensar que o acordo não sairia?
Era um acordo muito difícil, a probabilidade de ele ocorrer era muito pequena. Em uma semana, eu levaria o voto pela reprovação, eu ia reprovar mesmo porque o termo de compromisso [apresentado inicialmente pela empresa] era totalmente insuficiente. Aí a empresa peticionou uma outra proposta e mudou com a petição.

No que o Cade teve que ceder na negociação?
Queríamos suspender a marca Perdigão por cinco anos. O que nos fez mudar foi a transferência de marcas [para a empresa que comprar o pacote de ativos].


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