São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2011

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ANÁLISE

Queda na ação é resultado de politização na gestão da Petrobras

ADRIANO PIRES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Petrobras é hoje, sem dúvida alguma, a empresa petrolífera com a melhor perspectiva de crescimento no mundo. Isso é explicado por uma série de fatores.
Nos últimos anos, a Petrobras foi a empresa que mais agregou reservas de petróleo, é a número 1 do mundo em tecnologia de exploração off-shore, tem um dos melhores quadros técnicos entre as petroleiras e, com o pré-sal, vai duplicar ou até triplicar suas reservas provadas.
Com esse horizonte azul pela frente, por que o comportamento das ações da empresa tem sido tão ruim, com o valor de mercado caindo?
De janeiro a junho de 2011 a Petrobras perdeu R$ 1,5 bilhão na gasolina e R$ 2,2 bilhões no diesel pelo fato de estar sendo obrigada pelo governo a vender os dois derivados abaixo do preço no mercado internacional.
Esse rombo, provocado por uma intervenção do governo, é uma das explicações do porquê as ações da empresa estão abaixo do seu valor patrimonial. Chama a atenção o fato de o ministro da Fazenda ser o presidente do Conselho de Administração.
A presença do ministro na presidência estaria impedindo a aprovação do novo plano de investimentos, dado que o ministro privilegiaria contas públicas e metas de inflação, em detrimento dos investimentos da empresa.
Essa descida do valor de mercado se acentuou quando da realização do processo de capitalização. Apesar de a Petrobras agregar 5 bilhões de barris de petróleo às suas reservas, o mercado não gostou nem do preço do barril nem, principalmente, de o Estado aumentar a sua participação na estatal.
Na realidade, o mercado vem precificando a politização na gestão da estatal, que cresceu muito depois do anúncio das descobertas do pré-sal e durante o processo de capitalização. O clima criado pelo governo anterior e sustentado pelo atual, do "Petróleo é Nosso", só aumenta a desconfiança sobre o futuro da empresa.
Acrescente-se ainda a escolha de investimentos de pouca qualidade e rentabilidade, como a construção de cinco refinarias, a produção de etanol e biodiesel e a construção de termelétricas. Sem falar na adoção do modelo de partilha, que obriga a estatal a ter ao menos 30% dos blocos e o monopólio da operação dos campos.
Causa preocupação a política do governo que está destruindo o valor da Petrobras. Só em 2011, perdeu R$ 55 bilhões do valor de mercado.
A empresa, que chegou a estar entre as cinco com maior valor de mercado do mundo, encontra-se agora em 11º lugar. E o valor de mercado está, pela primeira vez desde 1999, abaixo do patrimônio líquido.
Isso seria um indicador para comprar suas ações? Nada garante que seja o momento adequado. Basta que a ingerência política permaneça ou aumente, e a qualidade do investimento continuará ruim.
A relação preço sobre o valor patrimonial da ação preferencial da Eletrobras é de 0,45; e a da Petrobras, 0,98. Portanto, há espaço para piora. Em vez de a Eletrobras virar a Petrobras, como anunciava o presidente Lula, mais provável parece ser o oposto.
É preciso cuidar da Petrobras, entendendo que é uma empresa de capital aberto e que, para desenvolver sua grande joia, que é o pré-sal, necessitará executar um ambicioso plano de negócios.
E não será com a ótica da Fazenda que isso ocorrerá.

ADRIANO PIRES é diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra Estrutura)


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